Pentimentos de final de ano


A palavra pentimento para mim era nova até que há alguns anos um amigo me presenteou com a obra de Lillian Hellman, cujo título é Pentimento. E já falei sobre ela em um texto mais antigo.

Aprendi o seu significado já na leitura da primeira página do livro onde se lê: “À medida que o tempo passa, a tinta velha em uma tela muitas vezes se torna transparente. Quando isso acontece, é possível ver, em alguns quadros, as linhas originais: através de um vestido de mulher surge uma árvore, uma criança dá lugar a um cachorro e um grande barco não está mais em mar aberto. A isso se chama pentimento, porque o pintor se arrependeu, mudou de ideia.” Ou seja,  pentimento é aquilo que ficou de um passado mais ou menos remoto e que emerge, quando menos se espera, trazendo à luz o que tempo e memória ocultaram.

E quem de nós não tem guardadas, nos labirintos da mente, aquelas cenas que só muito raramente ressurgem e nos surpreendem? Há também momentos mais propícios a essas redescobertas, como por exemplo o Natal, e a transição de um ano para outro. Parece que estas datas, e também nelas as ausências, nos tornam mais susceptíveis a lembranças de tempos, pessoas e lugares.

Assim, revivi nestes dias de festas cenas quase esquecidas. Como quando um de meus filhos, na época da alfabetização, se negou a ir à escola por não se sentir seguro para ler com desenvoltura, e em voz alta, na sala de aula a” Lição do macaco”porque gaguejava na pronúncia de uma palavra e, com isso, certamente tiraria a nota 95 e não 100, como estava acostumado. E não houve conselho, promessa ou ameaça de castigo que o demovesse da ideia de faltar nesse dia. E faltou. Levei o irmão mais velho e quando voltei lá estava ele, no mesmo lugar que o deixara, com o livro nas mãos e um sorriso de vitória. “Agora, mamãe, eu já sei a lição, e vou tirar 100”. E com a maior perfeição e rapidez leu toda a lição para mim.

Filhos! Fazer o quê? E quando ainda pequenos eles são um misto de tormento e alegria, pois tememos muito pelos dias que terão pela frente, enquanto vibramos intensamente a cada etapa vencida ou barreira ultrapassada. Mas a vida segue seu curso sem que nele jamais possamos interferir. Eles crescem e se vão, o que é da natureza humana, mas ficam as lembranças.


Olhando para trás, revejo e revivo cenas como essas que me angustiaram, à época, e que hoje delas até acho graça; até sinto saudade. Por isso, talvez, tenha me lembrado da obra de Lillian Hellman, certa de que ao distraidamente roçar a pele do passado os pentimentos se revelaram naquele cenário com uma outra camada de tinta, menos vívida, mais esmaecida, contudo, muito mais delicada.

Fragmentos em balanço contábil


O ano de 2017 já se prepara para nos deixar. Foi bom? Foi mal? As respostas não podem ser uniformes porque as vidas seguem cursos distintos. A oscilação permeia as lembranças de cada um. E há graduações tanto de alegrias quanto de tristezas, sendo, entre estas, as perdas humanas a maior delas. E há também a dissolução de laços afetivos, que ferem de forma profunda os que até então se queriam juntinhos, lado a lado.

Há, contudo, bons momentos e pessoas especiais que amenizam as horas difíceis. E existem, também, as conversas amenas, a música, as leituras, enfim, todo o mundo da arte que nos instiga a descobertas infinitas. E ainda os desdobramentos dessa nova visão. São pequenos fragmentos que aos poucos se unem e nos vão moldando, esculpindo mesmo a nossa imagem e o nosso olhar, dia após dia, e nos conduzindo lentamente para o nosso refúgio, o casulo do qual, depois, passamos a observar com lupa o mundo em nosso entorno.

Num ano de poucos afazeres obrigatórios, me foi possível reprogramar o meu tempo. Caminhei pelas ruas e avenidas, sem pressa, observando as pessoas, as vitrines, a arquitetura... Visitei exposições, como as da  Japan House e me encantei com a arte do bambu e, depois,  com as nuvens monumentais decorando o espaço azul. Me esqueci do tempo real nas livrarias e, sem dúvida, pude ler mais. Muito mais. Se a minha conta bancária não se tornou mais relevante, o meu repertório, sim, com certeza.

Dessas leituras e releituras, anotei até algumas frases ou pequenos poemas, ou mesmo fragmentos deles, que me fizeram suspender o ato de ler para melhor sentir seu sabor.

Começo com duas citações sem autoria porque me esqueci (erro grave) de anotá-las.

- “As pessoas que amamos nunca morrem. Apenas partem antes de nós.”  (?)

- “As pessoas querem te ver bem, mas nunca melhor que elas.”  (?)

- “Só o silêncio nos ensina a encontrar em nós mesmos o essencial.”  (George Steiner)

- “estou na sala, aqui, parada/como se fosse um cão sem dono/o Sol acaba de deixar meu signo/há na vida algo de insano”  (Mônica Costa Bonvicino)

- “Se enxerguei mais longe, foi porque me apoiei sobre os ombros de gigantes”  (Isaac Newton)

- “Para onde vão nossos/ silêncios/ quando deixamos de dizer/ o que sentimos?”  (Mario Quintana)


Feliz 2018!!!

Celebração



Antes que a noite chegue
Vamos celebrar o dia
Vamos capturar a luz
E com ela dourar os instantes.

E quando o momento chegar
Vamos nos olhar com doçura
Sem medo. Sem mágoas.
Entregando-nos lentamente
serenamente

Ao sussurro intenso da noite insone.

Gógol e a política

Terminei a leitura da obra Almas mortas, de Nicolai Vassilievitch Gógol. Foi uma leitura demorada não só pela extensão da narrativa, mas também pelo corpo diminuto de letra que entrou em conflito com minha diminuição ótica. Foi-me emprestada a obra por um colega e amigo, o Prof. Flávio Porto, que tem uma biblioteca invejável. Livros e filmes são a sua paixão e, com ele, aprendo muito. Nada melhor que ter amigos com elevado nível cultural, e Flávio é um deles..

Para quem não conhece a obra, publicada na Rússia em 1842, se surpreende com a afinidade ali revelada entre o funcionalismo público na época de Pedro, o Grande, e o nosso, que de grande mesmo só tem a extensão territorial e a corrupção. E qual seria a similaridade, entre eles? A corrupção, é claro. A corrupção na Rússia é famosa e muito antiga. Aliás, isso não é novidade em países onde o autoritarismo ou o populismo vicejam.

As imagens que o texto de Gógol nos mostra surgem com o personagem o Conselheiro Civil Tchítchicov - homem bonito, bem falante e ganancioso - que viaja por várias cidades, buscando encontrar nas aldeias fazendeiros que a ele estivessem dispostos a vender as "almas mortas", isto é, camponeses que embora mortos constavam do recenseamento, que era anual, e por eles eram obrigados a pagar um imposto todo mês, estabelecido abusivamente pelo governo. A proposta de Tchitchicov se mostrava, a princípio, estranha, mas depois, com a sua eloquência e poder persuasivo, parecia até interessante aos fazendeiros porque  possibilitava a eles burlar o imposto.  Assim, nas duas pontas da negociação, o que vigorava era a malandragem, com origem em um imposto surreal.

É impossível ler Gógol sem preencher todas as lacunas de nossa mente com figuras nacionais, em especial dos últimos tempos, na relação promíscua entre políticos e empreiteiras, mas não só, e que praticam todo tipo de ilegalidade na busca de uma vida de luxo e riqueza, de forma rápida, e sem escrúpulos quanto às consequências de seus atos, certos de que a moral e a ética de muitos juristas também tem preço.
         

Fórum dos Leitores

Na minha postagem de ontem, neste blog, falei sobre os excessos verbais e de postura crítica da sociedade de hoje quanto aos preconceitos que, de repente, se tornaram até nauseantes por estarem em todos os discursos. Mas em seu último parágrafo, comentei o envio de um pequeno texto que enviara ao "Fórum dos Leitores" do jornal O Estado de S. Paulo e prometi aqui repeti-lo, caso fosse publicado. E não é que foi mesmo? Hoje, ao me sentar para o café da manhã, abri o jornal e lá estava ele. Meio manco, porque suprimiram o título, mas orgulhoso olhava para mim.
Como meus pais sempre me diziam, repetindo o clichê, "promessa é dívida", o texto segue abaixo, conforme a publicação, lembrando que em ausência ficou o título " A presidentA work alcoolic".

O Estado de S. Paulo - "Fórum dos Leitores" A2  28/11/17  

Durante todo o tempo que ocupou  o posto mais elevado da nação, Dilma Rousseff só nos prejudicou e envergonhou com atitudes errôneas e seu discurso caótico. Ela nos empobreceu econômica e linguisticamente e isso nos diminuiu lá fora, diante de povos mais evoluídos culturalmente, pois se Dilma é o retrato do povo que a elegeu, ficamos mal na fita. Não bastou, porém,  a petista ter sido afastada por um processo legítimo de impeachment, embora muito suavizado pela atitude nefasta de Ricardo Lewandowski e Renan Calheiros, para que ela voltasse a soltar a língua, com o entusiasmo que caracteriza sua verborragia ininteligível, nas entrevistas a repórteres estrangeiros. Leve e solta em Portugal, viajando à nossa custa e buscando exaltar suas qualidades políticas, afirmou ser uma "work alcoolic". O que é isso D. Dilma? Seria alguém que trabalha alcoolizado e por isso não consegue conectar lé com cré...? Faz sentido.

Neiva Pitta Kadota

Tempos de ódio

Entrei na Livraria Cultura no último sábado e percorri, sem pressa, as prateleiras e as "esculturas" de livros espalhadas pelo espaço que nos conduz aos pavimentos superiores. Tantas novas obras! Tantas reedições com novíssimas capas sedutoras! E tantos jovens lendo preguiçosamente, como recomenda Rubem Alves, e pensei bem baixinho:O mundo está melhorando! Mas de repente me deparei com a obra A negrinha, de Monteiro Lobato. As vozes severas dos jornalistas e repórteres das TVs nos últimos dias me assaltaram a mente e, assustada, pensei: Meu Deus!, será que vão alterar o título dado pelo autor? Será que vão proibir o livro, como já foi tentado há pouco tempo? Será que vão considerá-lo racista de novo? Voltei para casa, me lembrando de William Waack. Que mundo cruel!

Vivemos tempos difíceis. Muito difíceis. A grita pelas novas bandeiras em defesa da liberdade de expressão (própria e nunca a do outro); das mulheres, como se fossem todas umas coitadinhas  inofensivas e incapazes de fazer o mal a alguém (o que não é verdade, sabemos); do preconceito contra o que agora é considerado diferente, como os negros, os pobres, os incultos, os gays e similares, e tantas outras categorias que nunca considerei diferentes por esses motivos, pois a boa relação com o outro depende de  fatores diversos como afinidade, por exemplo. Gostamos de algumas pessoas e não apreciamos outras, mas não pelas razões acima.

Essa postura me parece um excesso e, pela minha ótica, não humanizará ninguém. Não é pela força e pelo grito que se muda a visão de mundo das pessoas. E sim pela educação, pela busca contínua, na família e na escola, do respeito recíproco entre todos. Sem isso, não se chega a lugar nenhum. 

 A mim parece que as pessoas diminuíram a dose de tolerância umas com as outras. E a hipocrisia domina os espaços onde ela parece reinar. Todos hoje se dizem amigos porque se encontram sob o manto do face book, mas é ali mesmo que manifestam seu mais profundo ódio a quem se coloca contra suas ideias. E essas divergências alcançam até os laços afetivos mais delicados. O que estremece o diálogo antes existente entre eles, e isso não é o ideal, entre nós, porque precisamos da existência do apoio mútuo em nossos relacionamentos, precisamos do outro para dar plenitude à nossa existência.

Não fujo à regra porque sou também um produto do meio, e tenho minhas opiniões como os demais, o que é óbvio, mas evito discussões abertas que podem atingir um nível indesejável. Por isso, eu as expresso aqui, em meu blog, buscando não ofender àqueles que me leem e divergem dos meus valores. Embora nem sempre consiga deixar a ironia de lado, em especial quando me refiro a políticos ou outras autoridades com o mesmo peso. Mas muitos deles merecem, sim.

Hoje, depois de muito tempo, enviei um pequeno texto para o "Fórum dos Leitores", do Estadão. Falo sobre a nossa ex-Presidente (de quem não sinto saudade) e a sua mais nova autodenominação. O título é "A presidentA 'Work alcoolic' ". Se ele for aceito, será publicado amanhã ou depois no jornal. E, se isso ocorrer, comentarei aqui para os que me leem, sem preconceitos.

Uma dedicatória para se guardar

O tempo em seu curso ininterrupto vai deixando rastros que a nossa memória congela. Alguns, mais à superfície, retornam com frequência; outros, parece que numa camada mais profunda, só vêm à tona quando estimulados por algum elemento a eles associado. E em outras vezes sem nenhuma justificativa plausível. São os mistérios da mente. Mas desde tenra idade os momentos vividos vão se somando...vão se somando...naqueles compartimentos flexíveis daquelas caixinhas de segredos tão nossas. E ali se eternizam.

Por isso, quem se envolve com o universo da linguagem tem sempre o que dizer e assim a literatura nunca se esgota. Há sempre novas passagens a serem retomadas pelos escritores que atentos a esses registros nos transportam para esses mundos, às vezes sombrios, às vezes de ingenuidade e magia. Gosto de autores que sabem como nos conduzir por essas veredas tão íntimas e e tão imprevisíveis, por meio de um registro estético contagiante, que nos permite visualizar as cenas descritas como se ali estivéssemos lado a lado, vivenciando tudo.

Há poucos dias, me dei de presente a obra Gaveta dos guardados, do artista plástico Iberê Camargo. Que delícia de leitura ele nos propicia com os seus "guardados", as lembranças da infância e adolescência. Ali, os seus medos, as suas agruras e, depois, as suas primeiras paixões de garoto (e as proibições, pela  pouca idade), suas experiências e seus sonhos. Fragmentos labirínticos de memórias em prosa poética sedutora. Na última  parte, a biografia do artista plástico internacionalmente reconhecido e premiado em que ele se tornou. Premiados também deveriam ser os seus escritos.

Da dedicatória da obra, aqui o breve e delicado texto poético de Iberê à Maria, sua amada.

"Depois (à Maria)

Quando eu estiver deitado na planície, indiferente às cores e às formas, tu deves te lembrar de mim. Aí, onde a planície ondula, a terra é mais fértil. Abre com a concha da tua mão uma pequenina cova e esconde nela a semente de uma árvore. Eu quero nascer nesta árvore, quero subir com os seus galhos até o beijo da luz. Depois, nos dias abrasados, tu virás procurar a sombra, que será fresca para ti. Então, no murmúrio das folhas eu te direi o que meu pobre coração de homem não soube dizer."

(Iberê Camargo)

Quem assim escreve, jamais será esquecido. Ficará, sim, na "gaveta dos guardados" de todas as Marias.





As novas táticas da esquerda


 

Sempre defendi a leitura do jornal O Estado de S. Paulo pela seriedade de sua informação, com editoriais que buscam trazer à luz fatos que nem sempre compreendemos no momento, e por contar também com articulistas que corroboram essa postura responsável e de qualidade, imprescindíveis a um bom veículo informativo. Mas sei também que podemos encontrar bons jornalistas e boas matérias em outras mídias.

E foi o que aconteceu neste domingo, dia 22 de outubro. Ao dar uma olhada no jornal Folha de S. Paulo, me deparei com um artigo de Flávio Rocha, cujo título “O comunista está nu”, muito me surpreendeu pela clareza com que em poucas linhas ele nos dá o panorama das estratégias de atuação da esquerda aqui, entre nós, e no mundo afora para atingir seus objetivos que não são os mais nobres, seguindo a linha sinuosa do italiano Antonio Gramsci: “combater o capitalismo pelos flancos mais sensíveis”, diz o texto.

E quais seriam esses flancos? Segundo o articulista, as “trincheiras burguesas”, ou seja, o Judiciário, as Forças Armadas, os partidos conservadores, a polícia, a igreja e a família. E nesta última a dissolução de valores morais. Por isso, as exposições que tanta polêmica causaram e, não sem razão, foram defendidas aguerridamente pelos artistas, pelos intelectuais e por mídias, também comprometidas com esses propósitos (embora, muitas vezes, de forma dissimulada), buscando com essa guerra contra o capitalismo e a democracia fortalecer os partidos de esquerda que se esfacelaram na Rússia “no início dos anos 90, sob o peso de sua ineficiência, injustiça e isolamento”, segundo ele.

Flávio Rocha, então, afirma “Se venho a público, expondo-me à patrulha ideológica infiltrada nos meios de comunicação, é para denunciar tais iniciativas como parte de um plano urdido nas esferas mais sofisticadas do esquerdismo – ameaça que, não se enganem, é tão mais real quanto elusiva. Exposições são só um exemplo. Há muitos outros: associação de capitalismo e picaretagem na dramaturgia da TV; glorificação da bandidagem glamorosa; vitimização do lúpem descamisado das cracolândias; certo discurso politicamente correto nas escolas.”

E continua ele “São todos tópicos da mesma cartilha, que visa à hegemonia cultural como meio de chegar ao comunismo. Ante tal estratégia, Lênin e companhia parecem um tanto ingênuos À imensa maioria dos brasileiros que não compactua com ditaduras de qualquer cor, resta zelar pelos valores de nossa sociedade”.

Aqui, o depoimento de quem vê com maior profundidade algumas ações que, se aparentemente gritam pela liberdade de expressão e pela democracia, nada mais desejam senão o oposto. Basta olhar os míseros e opressivos espaços onde a esquerda chega com mil promessas de um futuro promissor e igualitário, sem distinções, e culmina com as mais longas, fechadas e cruéis ditaduras.

Esse me pareceu um texto corajoso diante da patrulha ideológica, com poucas exceções, que habita a redação da Folha de S. Paulo.

Essas máquinas terríveis

Meu computador ontem resolveu me punir. Sabe ele que não sinto uma forte atração pelas máquinas, mas sim pelas palavras, ora no processo de leitura, ora na atividade da escrita. Gosto do convívio com sons e letras que produzem sentido, ou sentidos. Estes até me atraem ainda mais porque me envolvo por mais tempo na busca de uma codificação ou decodificação da mensagem ali contida.

E assim leio e releio os textos que me chegam às mãos. redijo e refaço os que me vêm à mente. Mas meu computador ontem, enciumado talvez, congelou meus e-mails. A imobilidade foi total. Nada se movia na telinha, exceto um pequeno  círculo azul que substituiu a seta e não mais obedecia ao meu comando para abrir as mensagens ou para me colocar em contato com alguém. E assim continua: inerte, paralisado.

Inúteis foram as minhas tentativas porque mínimas também são as minhas habilidades tecnológicas. Não, não sou expert nessa área, embora reconheça a importância de saber manipular essas máquinas mágico- demoníacas para com elas viver em harmonia. E tudo indica que não haverá, para mim, grandes progressos futuros se as minhas paixões continuarem outras, apenas as outras. E sem paixão nada acontece. Por isso, os meus e-mails continuam protegidos por um enigmático círculo azul e eu impotente diante dele.

Mas amanhã chegará aquele a quem pedi socorro: o técnico, e a situação se inverterá, tenho certeza. Tudo voltará como antes até que um novo símbolo malévolo venha  novamente me trazer transtornos ou que eu, cansada da posição de perdedora, decida mudar minha postura. Ou seja, que eu  adote aquela situação tão conhecida, e mais ou menos assim: "já que não posso vencer meu inimigo, procurarei dele me tornar amigo". 

Acho que terei mesmo de iniciar uma relação mais afetiva com esse equipamento meio "palocciano", "frio e calculista" que acabou por me trair num momento em que tanto precisava dele.        

Estranha exposição

Recebi de um amigo um vídeo, filmado no Plenário, em que o senador Magno Malta, indignado, faz uma crítica ao Banco Santander por ceder seu espaço a uma vergonhosa exposição a "Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira" , cujos "artistas", autores das obras, diziam ser dirigida às crianças de escolas públicas e privadas, ou seja, um projeto educativo.

Educativo? Santo Deus! O que é aquilo?

Quem viu as imagens sabe do que estou falando. É uma agressão às crianças.  É pornografia e pedofilia puras. É zoofilia da pior espécie. Não é amor pelos animais, mas sim abuso repugnante. É também desrespeito às imagens sagradas. É uma lição de tudo o que é mais negativo na mente e no comportamento humano e, segundo a artista Adriana Varejão, o objetivo é  "jogar luz sobre coisas que muitas vezes existem escondidas". Jogar luz? Que distorção é essa? Jogar luz é abrir a mente para um conhecimento superior e não despertar a mente para uma sexualidade precoce e pervertida.

O objetivo a mim parece ser mais  uma tentativa de deformar a mentalidade infantil, que teve início com o projeto (fracassado me parece) da questão de gênero nas escolas, ao afirmarem que a criança não nasce homem nem mulher, a sociedade é que  as torna homens e mulheres, portanto gênero é uma questão cultural. Como assim? Que eu saiba não é isso o que diz a Ciência.

Bem, se o objetivo desse grupo, responsável pela exposição, era defender a liberdade sexual ou a libertinagem, ou sei lá o quê, que o façam em espaços mais apropriados e deixem as crianças em paz. Deixem que elas curtam a sua infância (que é tão curta hoje!), de forma saudável e feliz, e aprendam a amar e respeitar os bichinhos, como companheiros que, como elas mesmas, não devem nunca ser maltratados ou molestados em sua brincadeiras.

E pensar que para isso, a estranha Lei Rouanet tenha colaborado com 800 mil reais!

O caso JBS

De tédio não se morre neste país. As notícias mais estapafúrdias nos assaltam diuturnamente, em especial no espaço político onde as espertezas milionárias de suas excelências, tão "probas", não parecem ter limites. E é perda de tempo ouvir, depois das infames notícias, as manifestações dos citados, ou de seus advogados, pois todos se dizem inocentes, sem exceção.  Todos são éticos e querem colaborar com a Justiça. Quanta hipocrisia, meu Deus!

E se estamos falando de hipocrisia, não dá também para esquecer a postura do Sr. Rodrigo Janot diante de dois fenômenos surgidos nos últimos dias na sua esfera de atuação. Um foi o caso da delação da J&F, atingida pelo tsunami dos novos áudios. O outro foi a convicção de Janot (meio tardia) de que O Sr. Lula é o líder da quadrilha petista. Só agora, Janot?!!! Só agora, nos estertores de seu mandato de vários anos, e de várias delações comprometedoras, é que percebeu os crimes de Lula e de seus comparsas?

Em relação ao primeiro, escrevi um comentário para o "Fórum dos Leitores" do Estadão e meu texto foi publicado ontem: 07/09/17. Vou reproduzi-lo abaixo para os que não o viram  nesse jornal.

"A ética de Janot

Tão seguro de seus atos, tão cheio de coragem e arrogância para acusar seus desafetos e tão rápido para liberar de qualquer punição os irmãos Joesley e Wesley Batista, Rodrigo Janot vem agora a público confessar que foi enganado pelos delatores da J&F e pelo  seu ex-auxiliar na Procuradoria da República (PGR), como se fosse um ingênuo iniciante, e não um experiente profissional em final de carreira na PGR. Isso não nos convence, sr. Janot. Se antes havia dúvidas quanto à sua postura ética, agora, então..."

As perdas de agosto


Mais um agosto se vai. E com ele duas pessoas queridas. Deixaram elas marcas indeléveis por serem amigas e geniais. Paulo e Marcela. Perfis muito distintos os modelavam e nem sei se chegaram a se conhecer, embora tenham circulado pelo mesmo espaço acadêmico, ele como professor; ela como aluna.

Paulo: um professor, um pesquisador e cineasta, um “demolidor de catedrais”. Irrequieto e criativo, em meio às luzes adorava ser o foco. Tinha um superego, mas também uma boa dose de generosidade, o que fazia dele um bom amigo. Tinha o meu afeto e de muitos outros. Sua ausência será sempre sentida no círculo de amizades.

Marcela: uma ex-aluna minha, uma garota ainda, e muito doce, com uma sensibilidade que se poderia dizer à flor da pele, sem receio do clichê. Tão delicada era Marcela que se entristecida ou magoada com alguém ou com os revezes da vida, tinha uma única reação: fechava-se para o mundo no refúgio da mudez. Não mais falava, por dias, semanas até, como se houvesse esquecido o som ou o dom das palavras. Mas ao escrever, em especial nesses momentos, o seu texto, num misto de doçura e angústia, espelhava o seu espanto pelas perdas e a sua não aceitação da finitude dos seres. Em seu blog, as fotos recorrentes da irmã que perdera, jovem como ela agora, num trágico acidente de carro, são a prova do quanto se queriam bem. As imagens ali colocadas com frequência eram o retrato vivo de uma dor que parecia não cessar nunca. Agora estão juntas de novo. Que lá, no infinito, reencontrem a paz e os laços que por aqui, de repente, se partiram.


Assim, o mês de agosto chega ao seu último dia. Para mim, não deixará saudades. Saudades sentirei, sim, dos amigos que se foram. Estes ainda continuarão por longo tempo percorrendo os labirintos das lembranças como nas palavras de Guimarães Rosa “As pessoas não morrem, elas ficam encantadas”.

Um dia nublado


É domingo. Acordei com mil planos, mas ao abrir a janela me deparei com um céu de cor cinza e, pela cor do asfalto, imaginei que chovera por toda a noite. E eu não gosto de chuva. Não mesmo. Sei da sua necessidade e da sua importância para o desenvolvimento das plantas para que suas raízes sejam hidratadas e elas possam até renascer e garantir, assim, a nossa sobrevivência por aqui. Sem oxigênio, sem alimentos e sem o multicolorido estético do entorno, nós, como seres sensíveis, não resistiríamos.

Eu sei, eu sei, aprendi com a escola e com a vida. Mas não gosto da umidade nos pés com que a chuva nos premia. Não gosto do frio.  Não nasci no Polo Norte e o meu humor segue a orientação solar. Se surge o sol, a alegria emerge de dentro de mim sem uma razão plausível que a justifique. Se chove, uma tristeza que vem não sei bem por que me invade de mansinho, e vai buscar quase sempre recordações que me entristecem ainda mais.

Essa é razão porque o dia de hoje não é daqueles que aguardo com ansiedade. Um dia frio e sem luz é, para mim, um dia sem vida que compenso com um sofá aconchegante, uma manta quentinha e um livro interessante nas mãos. Graças a ele, as horas passam, a noite chega e o domingo acaba. E nem lembro mais que havia um mau tempo nesse domingo, pois em minha mente fica apenas a lembrança da fala e do vaivém dos personagens com quem convivi por toda a tarde.

Não foi, porém, sempre assim a minha rejeição pela chuva. E lembrei-me hoje, e não sei bem por que, de uma noite lá atrás, num tempo quase esquecido - em que o carro era um luxo de poucos -, quando após a sessão de cinema nos deparamos, o Kendi e eu, meu namoradinho à época, com uma forte ventania e uma chuva torrencial. Para nos proteger e aquecer, tínhamos um único recurso: um guarda-chuva e os corpos juntinhos. Cena vista em tantos filmes, mas que eu nunca vivenciara. Estávamos no centro de um círculo de grossos pingos e ríamos de nossa prisão líquida. E aquilo me encantava. Tudo me encantava: a chuva, o frio, a proximidade dos corpos a que eu não estava acostumada. Eu era apenas uma adolescente. E estava feliz. Eu estava apaixonada, só isso, mas não sabia. Agora sei. E naquele dia amei a chuva.


Descrever cenas como essa, hoje, dá a impressão de que estamos falando de filmes da década de 50 e 60, ou de antes até, quando as relações afetivas eram menos liberais e os jovens não podiam, sem culpa, expressar suas sensações. Quanto a afirmar que aqueles eram tempos melhores ou piores, depende da ótica de cada um, mas de uma coisa tenho certeza a chuva daquela noite foi memorável e dela dá até para sentir saudade.

"Que querem os brasileiros?"

Este mês de julho foi muito gratificante mesmo, para mim, porque ainda no último dia dele, hoje, 31/07/17, O jornal O Estado de S. Paulo publicou  no Fórum dos Leitores mais um texto meu "Que querem os brasileiros?

Nesse breve texto, comento o resultado das pesquisas de opinião sobre o governo Temer, que revelam  a sua baixa aprovação pelos brasileiros, e questiono o que desejam eles com a sua rejeição a quem está procurando nos tirar do abismo de que estamos tão próximos.

A seguir, a publicação mencionada:

"Que querem os brasileiros?

"Sustentar Temer é suicídio político", afirma o senador Jorge Viana (PT-AC), a respeito  da baixa popularidade do Presidente da República. Será mesmo? Será que amanhã não teremos um outro olhar sobre a postura e a trajetória política de Michel Temer, ao tentar consertar o rombo deixado pelos governos Lula e Dilma Rousseff, e diante da ira ferrenha  dos seus militantes? Senão, como explicar o paradoxo observado neste governo, em que sua popularidade despenca, mas o desemprego começa a diminuir, a Bolsa de Valores sobe e o dólar cai? Tem de haver algum equívoco nessas pequisas, é o que me parece. Vamos dar um voto de confiança ao presidente Temer e deixá-lo trabalhar. Ou será que o País quer mesmo a jararaca de volta?"

Neste sucinto comentário, coloco a minha indignação diante da postura assumida por eleitores e políticos que, indiferentes ao que virá depois, lutam com afinco pela derrubada do Presidente Temer, como se fosse ele o responsável pela miséria que assola o país e não os governos petistas que o antecederam.

Isso me lembra  a Inglaterra na década de 80, do século passado, quando a Primeira Ministra  Margareth Thatcher, conhecida como a "Dama de Ferro", que tinha o mesmo índice de popularidade de Temer, hoje, reergueu a Economia do país, impedindo que os ingleses sofressem o que nós, brasileiros, vivenciamos na atualidade: o desemprego e a desesperança. 

  

Julho no "Estadão"


Em férias, redigi três textos para o Fórum dos Leitores, do jornal O Estado de S. Paulo, e os três foram publicados nos dias 03/0717, “O silêncio das ruas”, já postado aqui; “Que peninha!” (cujo título foi suprimido na publicação), em 21/07/17 e “O Brasil ainda tem jeito”, em 26/07/17.

 É gratificante perceber que entre tantos textos enviados por não sei quantos leitores, os jornalistas escolhem o nosso. Gratificante porque o meu universo é o das palavras e vê-las ao alcance dos demais “não tem preço”, repetindo um estereótipo publicitário.

Decidi, então, transcrevê-las aqui, ciente de que nem todos os meus amigos assinam o “Estadão” e a alguns já peço desculpas por saber que pensam diferente de mim, o que não me desagrada porque sou a favor de regimes democráticos e estes permitem, sim, o pensamento divergente.

 A seguir, os textos publicados:
Que peninha!

Que peninha! Os petistas estão muito sensibilizados com o bloqueio de alguns bens da alma mais pura do País, o que lhe causará, segundo eles, “asfixia econômica”. Mas não se sentiram nem um pouco incomodados com a asfixia econômica dos 14 milhões de desempregados pelo assalto aos cofres públicos cometido pelo Sr. Lula e comparsas. O que houve, companheiros?

 O Brasil ainda tem jeito?

O nosso país tem jeito, sim. Se lermos o artigo Um caso de cura de nossa doença, de Fernão Lara Mesquita (25/7, A2), poderemos visualizar a saída. Basta seguir o modelo norte-americano implantado pelo presidente Theodore Roosevelt, que teve início em 1902 com a inserção dos direitos de iniciativa e referendo na Constituição dos EUA. Dali em diante o projeto foi sendo moldado aos desejos dos eleitores e em 1911 foi incorporado o recall dos governantes, de funcionários públicos em geral e até mesmo de juízes, em caso de condutas indevidas. Pôs-se um ponto final nas mordomias nefastas da estabilidade do emprego público e dos mandatos políticos. Com essas mesmas medidas o Brasil acabaria com a má administração da res publica, com os conchavos e escoadouros do dinheiro do povo e, assim, poderia voltar de uma vez por todas aos trilhos. Talvez até se tornasse, amanhã, uma cópia do que ocorreu nos EUA depois dessas reformas saneadoras. Segundo Fernão Mesquita, tudo isso “reduziu drasticamente a corrupção e fez dos norte-americanos o povo mais rico e livre da História da humanidade.”


Por que ler Roland Barthes?



Tenho por hábito ler obras de novos autores com competência literária e sensibilidade. Assim, me atualizo e, muitas vezes, descubro excelentes obras, sejam elas de ficção, de poesia ou mesmo de ensaios, que abrem meus olhos para novas paisagens literárias. E, então, passam eles a fazer parte da minha rotina de leituras, e estas procuro compartilhar com meus alunos, buscando sempre incentivá-los a mergulhar nesse universo livresco, muitas vezes esquecido hoje pelas novas gerações.
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Contudo, entre essas novidades insiro ainda os autores de que mais gosto e retomo leituras efetuadas em tempos pretéritos para que não se apaguem de minha memória passagens de importância elevada, tanto do mundo das ideias quanto da criatividade estética ou ficcional.

Acabei de ler duas obras de Elio Vittorini Sardenha como uma infância, uma pintura poética e delicada das paisagens em fragmentos que encantam o leitor, e Homens e Não, que retrata o nazifascismo e a brutalidade sem limites desse período em que o personagem Ene 2,luta pela dignidade dos homens, pela liberdade de ser e, ainda, pelo sonho de um amor intenso, quase impossível, que a guerra interrompeu.

Neste semestre, com mais tempo livre pela diminuição “compulsória” de minhas aulas, li (ou reli) Proust (Os salões de Paris); Borges, Mia Couto; Valter Hugo Mãe; Cecília Meireles; Emily Dickinson; Le Clézio; Écrire, de Marguerite Duras; Enclausurado de Ian McEwan (e não gostei); Oscar Wilde e outros e outros e outros. E, também, Roland Barthes. Dele, não só reli O Prazer do texto e Barthes por Barthes, mas estou lendo a coleção Inéditos (volume 4 – Política). Dessa coleção, adquirida há pouco tempo, li recentemente A preparação do romance.

Bem, Barthes é Barthes e, com seus escritos ecléticos, seus textos sempre inaugurais, não cansa nunca o leitor. A escritura barthesiana seduz ao revelar um formato singular de dizer e de encantar, com palavras outras, aquilo que se eternizou pelo estereótipo. A fuga do estereótipo é sua preocupação maior. Por isso, seus textos são imprescindíveis àqueles que buscam a exposição de uma fala que se quer distanciada do lugar comum. E é por isso, talvez, para não me esquecer de seus ensinamentos por meio de deslocamentos linguísticos, que os seus livros em minhas estantes, ou em meu quarto, flertam comigo, estão sempre à vista e ao alcance de minhas mãos.

Ler Roland Barthes nos leva a refletir sobre o universo plural das palavras, a conhecer uma possibilidade quase infinita de combinações linguísticas, poéticas, que farão com que o texto se torne puro desejo, “uma blusa semiaberta” por onde sempre se busca ver algo mais.


"O silêncio das ruas"

O jornal O Estado de S. Paulo é, de longa data,o meu preferido. Gosto da diagramação, dos editoriais e de seus colunistas. Ele é meu companheiro no café da manhã. É por ele, essencialmente, mas não só, que me oriento política e culturalmente em pequenas, porém substanciais, doses diárias. Quando criança eu me deliciava com os enormes cartazes dos filmes que ali eram postados como um chamariz para a lotação dos cinemas; hoje, me seduz o nível de expressão e de conteúdo de seus textos.
Por isso, às vezes, ganho coragem e redijo algum comentário sobre a nossa "nobre política" e o envio para o "Fórum dos Leitores" desse importante jornal e felizmente, também às vezes, esses pequenos textos são publicados na edição impressa ou virtual, o que alegra o meu dia.
Hoje, 03/07, pela manhã, ao abrir o Estadão, me deparei com a publicação do meu comentário que transcrevo a seguir:

O silêncio das ruas

Por se tratar de uma greve geral contra o presidente Michel Temer e contra as necessárias reformas propostas por ele, em especial a trabalhista, não se viu o que o PT e os sindicalistas esperavam ao promovê-la para o último dia 30. Motivados por pesquisas sobre as próximas eleições, que não se sabe se isentas de interferências partidárias, e alucinados por invalidar os esforços do governo atual, ou seja, enfraquecer Temer para revitalizar as ideias petistas e tentar trazer Lula de volta em 2018, tudo fizeram aos gritos de "fora Temer" e "não às propostas" deste governo. Contudo as pessoas de bem, sem compromisso com esse partido e mais esclarecidas politicamente não fizeram coro com os "vermelhinhos", pois sabem diferenciar o que querem eles do que precisamos nós, brasileiros. Assim, seus gritos nas ruas não conseguiram sobrepor-se ao silêncio dos que em casa nem se interessaram, desta vez, pelas imagens tão gastas, tão recorrentes e tão tendenciosas, em especial da mídia mais badalada do país.

Lugares e culturas


 
Televisão, para mim, não é objeto de paixão ou de entretenimento. Dela me interessam os noticiários, entrevistas com intelectuais que admiro ou personalidades realmente importantes. Mas abro exceções, é claro, para atividades artísticas de qualidade e documentários sobre lugares e culturas.

Imagens pouco comuns do Japão têm sido reveladas pela Globonews, nos últimos dias, numa série interessante que vale os minutos despendidos diante da tela da TV. E algumas delas nos surpreendem pela beleza estética; outras, pela postura educada e respeitosa, o que contrasta com o que vivenciamos em nosso país.

Um outro documentário também me levou a refletir sobre as diferenças abissais entre nós, brasileiros, e outros povos, como os dinamarqueses, por exemplo. A rotina tranquila, segura e ética vivenciada pelos habitantes da Dinamarca nos deixa perplexos. Como podem eles manter lojas comerciais sem funcionários e até sem a presença do proprietário, contando apenas com máquinas que recebem o valor das mercadorias, seja em dinheiro, seja em cartões, sem nunca serem lesados? Ou como enviar crianças de apenas quatro anos, à escola, sozinhas, certos de que elas lá chegarão sem problemas? E se, porventura, acasos surgirem, alguém estará atento para ajudá-las, pois para a população desse pequeno e invejável país o cuidado com as crianças é dever de todos e não apenas dos pais. Isso nos mostra que, em casa ou nas ruas, elas sempre estarão protegidas, seguras. Quão diverso é aqui no território tupiniquim!

Sabemos das diferenças culturais entre os povos, das extensões geográficas distintas, mas diante das imagens captadas pela câmera de um bom fotógrafo e da competência de um bom jornalista, esses instantâneos imagéticos ganham nova dimensão e provocam reações inesperadas no telespectador “Eu também gostaria de estar ali”, diz algo dentro de nós, ainda que relações fortíssimas nos unam à terra onde nascemos. É o pertencimento.

Está na moda o interesse por cidades mais exóticas, como as dos países asiáticos. Não conheço nenhuma ainda, mas gostaria. Sei, contudo, que muitas delas reservam mistérios abissais e conquistam os que ali se arriscam a passar uma temporada, seja por estudo ou trabalho, seja pelo puro desejo de gozar férias diferenciadas. E a magia acontece quando de lá retornam. É que, com eles, vêm também ternas memórias que não mais se apagam, e estas instigam neles o desejo de um dia voltar para revivê-las nessas longínquas e singulares paisagens.

Por curtos períodos transitei por alguns países e deles me recordo por fragmentos de imagens, às vezes registrados pela câmera; à vezes, não. Apenas pela mente. São lembranças que retornam e se ligam a fatos, lugares específicos ou pessoas. E, como num filme, a imagem inicial vai se desenvolvendo e revelando cenas já esquecidas pelo tempo. E então percebo o porquê do recorrente clichê: “recordar é viver”.

Da Rússia, país meio europeu, meio asiático, que também está sendo objeto de uma série da TV pelos jogos do próximo ano, estão chegando cenários que nos surpreendem. Diante do colossal projeto arquitetônico de São Petersburgo, que é o Museu Hermitage, um dos maiores e mais belos do mundo, é impossível, para quem já esteve em seu interior, não recordar o seu precioso e belíssimo acervo. Ali, obras de Rotchenko, Kandinsky, Malevich e Matisse ( com a minha obra predileta “A dança”), e de tantos outros russos, assim como de artistas de todo o mundo, cujos trabalhos encantam os visitantes que, diante deles, não veem a hora passar. E, em perfeito diálogo estético com as obras ali expostas, estão os desenhos do piso em madeiras diversas, com predominância do Pau Brasil ( nossa madeira mais nobre), levado daqui pelos portugueses que o comercializavam com a Rússia, em tempos idos. É um museu sedutor, apesar das multidões que para ali afluem, nas férias. Mas isso demonstra que o interesse pela arte é de todas as idades e de todas as culturas. Felizmente!

Entretanto, o que me leva a recordar com maior frequência o espaço russo não é somente o Hermitage, o Kremlin, o simbolismo soviético que tudo permeia, mas são elementos observados no povo, nos atos cotidianos, como: nas mulheres, uma beleza rara; nos homens, a ingestão abusiva de vodka. Lembro-me deles pelas ruas, nas noites de verão, completamente bêbados, atirando as garrafas vazias para o alto e caindo depois sobre os seus cacos. Que cenas!

Acho que o verão enlouquece as pessoas que habitam um país em que o inverno, rigorosíssimo, dura o tempo de uma gestação, ou seja, nove meses. Lembro-me também de, em São Petersburgo, presenciar o fenômeno (para nós, incomum) das “Noites brancas”. Fenômeno esse que deu título a uma novela de Dostoiévski. Recordo-me de que fiquei à janela, deslumbrada com aquela radiância interminável até alta madrugada, enquanto o sol continuava lá no alto firme e forte, mais forte que eu, que acabei adormecendo e não vi o novo dia chegar sem o intervalo da lua entre eles.

Belos lugares! Imperdíveis momentos! A vida às vezes é bela, sim!

ERRATA

Errata para a crônica: "A nova gestão paulistana"

Onde se lê: City Bank, leia-se  Citibank
Onde se lê: crac, leia-se: crack
Onde se lê: trabalho, leia-se: trabalham

A nova gestão paulistana


 
Se na capital do país, após os últimos acontecimentos políticos, com o julgamento da chapa Dilma-Temer, as previsões não se mostram com clareza, aqui em São Paulo, a maior e mais pujante cidade brasileira vai a todo vapor com a nova gestão.

O atual Prefeito João Doria Junior se parece com o antigo slogan do City Bank: “nunca dorme”. Chegou limpando muros e fachadas dos prédios da cidade, emporcalhados pelos pichadores, e, apesar dos reclamos dos artistas, na maioria de esquerda, não recuou. Depois se voltou contra os drogados que, em conluio com os traficantes, ocupavam uma parte da região central, que recebeu a indesejável denominação de “Cracolândia”, tornando o espaço público um perigo para as pessoas de bem que por ali não mais puderam transitar sem serem assediadas ou assaltadas pelos meliantes do “crac” que, então, se achavam (muitos até inconscientemente) os donos do pedaço. E o foram até que o novo Prefeito decidiu pôr ordem nessa arbitrariedade com um projeto que tudo indicava seria vitorioso.

Novamente a gritaria e as críticas ao Prefeito por tentar remover dali os viciados, aos quais oferecia ainda internação e tratamento, o que as famílias dizem não mais conseguir fazê-lo, tamanha é a dependência das drogas e a degradação humana a que esses indivíduos se entregaram. E não apenas alguns opositores ideológicos de João Doria se colocaram na defesa dos viciados, como também órgãos da Justiça, proibindo a polícia, o grupo de médicos, assistentes sociais e demais auxiliares nessa tarefa tão saneadora e necessária, tanto para os “doentes” quanto para os que por ali residem ou trabalho.

Fico imaginando a desolação dos que ali investiram no passado adquirindo imóveis para residir ou investir como renda no futuro, quando não mais pudessem trabalhar, e hoje se veem traídos pelos representantes do poder público que priorizaram os dependentes de drogas e seus parceiros, os traficantes, que se apossaram desses locais, em detrimento dos reais proprietários desses imóveis hoje depredados, desvalorizados e totalmente impossibilitados para outros usos, legais, como moradia própria, por exemplo.

Dizem os opositores dessa medida que é preciso agir com espírito humanitário diante da situação desses pobres viciados. Com o que eu concordo plenamente. Mas pergunto eu: abandonar esses indivíduos à própria sorte, como tem ocorrido até agora, ocupando as ruas em aglomerações que crescem dia a dia, e hoje já são multidões, sem nenhuma assistência médica, sem nenhum cuidado preventivo contra todas as doenças contagiosas, como AIDS, por exemplo, entre outras, que ali encontram campo fértil para a sua proliferação com intensa rapidez, é ter olhos humanitários para esse problema?

Não. Não acredito nessa falácia. O mais provável é que essa indignação demonstrada por alguns grupos da sociedade seja apenas mais uma postura hipócrita daqueles que rejeitam qualquer medida, por mais adequada que seja, por mais eficiente que se mostre, vinda de um gestor que não seja do Partido dos Trabalhadores, com um único intuito que é barrar a possibilidade de sucesso de todo e qualquer projeto, cuja sigla seja principalmente de seu mais forte opositor político, o PSDB.

E graças a essas medidas de interrupção do processo de remoção dos dependentes de drogas para locais específicos e menos putrefatos, mais higienizados, e com a assistência adequada, hoje eles se encontram espalhados pela região, prejudicando comerciantes e moradores das redondezas que, com razão, reclamam da invasão desses indivíduos de seus espaços, antes mais tranquilos. Porque a verdade é que todos dizem ter pena, muita pena dos viciados, mas ninguém os quer em casa ou nas proximidades, porque têm consciência plena da ameaça que eles representam.

Que bom seria se as pessoas começassem a pensar de forma mais racional, deixando de lado as posturas radicais e iniciando uma outra mais positiva, para o benefício de todos, pois não é novidade para ninguém que o país está na bancarrota moral, política e econômica e agora é hora de defender o país e não partidos políticos, porque não há santos nessa história, e todos sabemos disso.

Brasília e o Brasil


 
O cenário político em Brasília foi, nas últimas semanas, um dos mais turbulentos. E seu desfecho longe ficou do Ideal; foi apenas o necessário para tapar um rombo na estrutura política e o desabamento total da Economia. Nem vou perder o meu tempo a comentar esse resultado para não repetir o que todas as mídias já publicaram e só nos resta calar porque, segundo uma expressão latina bastante conhecida “Roma locuta, causa finita”.

Contudo, as incertezas sobre o nosso futuro estão ainda muito presentes. Tudo pode acontecer. Tudo mesmo, pois os nossos representantes políticos, em sua maioria, demonstram uma capacidade infinita de nos surpreender. Os noticiários estão sempre nos colocando diante de quadros insólitos, seja por novas denúncias de corrupção, seja por ameaças de novas delações e, com elas, novas prisões, porque a Lava Jato não dorme em serviço.

Mas uma pergunta resiste. Quando é que o chefão maior, o “amigo” das planilhas da Odebrecht vai também fazer companhia aos seus comparsas nas suítes lá em Curitiba?

Sinestesias


 

Quero olhos de ver e de sentir

de acariciar

Quero falas que tenham sabor de saudade

de instantes

Quero mãos que mapeiem as distâncias

com leveza

Quero ouvidos que recolham os sons

com ternura

Quero um cálido refúgio de aconchego

Entrelaçando sonhos, sussurros e silêncios.

Sabe-se lá...


 
Em meu texto anterior fiz elogios ao governo do Presidente Temer e mantenho a mesma opinião sobre a sua gestão. Foi um ano em que o país buscou virar a página de nossa história recente e inaugurar um período de retomada do crescimento, depois da destruição causada pela cúpula petista, em ação, em Brasília.

Contudo, neste país não se vive sem sobressaltos. Poucas horas após tornar pública a minha crônica, elogiando o governoTemer, a Globo News e todas as mídias passaram a transmitir as notícias sobre as últimas delações dos irmãos Wesley e Joesley. E todos neste país já sabem das gravações, das acusações, dos detalhes, das opiniões e de tudo mais.

Mais canalhas no pedaço, pensei, e dos grandes! Isto parece não ter fim. O número de atores parece também infinito e os valores soam surreais. O desânimo invadiu a mim e, certamente, a todos que como eu esperavam por um ajuste na Economia e por dias melhores.

Voltei ao computador e redigi novo texto porque o contexto havia mudado da luminosidade do dia para a negritude da noite e eu precisava expor o que me angustiava naquele momento, ainda oscilante entre a verdade e a mentira, a autenticidade das provas ou a sua farsa, com apagamentos intervalares que poderiam ser resultado de interferências para produzir novo sentido às mensagens e, com isso, instalar o caos no país. E tão sem sorte eu estava (ou tão sem coordenação motora) que consegui perder o texto no momento em que o transferia para o meu blog. E, apesar das tentativas, não mais consegui recuperá-lo. Desisti.

Eu desisti e só hoje voltei a escrever. Mas Temer não desistiu e não renunciou. E pela minha ótica essa postura poderá ser pior para o país pelo alongar da crise. Entretanto, como afirmam muitos analistas políticos, não temos quem possa substituí-lo e dar continuidade ao processo por ele iniciado de reconstrução do país. Será? Ainda não sei bem o que pensar a respeito.

Enquanto isso, os baderneiros de sempre já começaram a sair às ruas gritando “Fora Temer” e “Diretas Já”, na esperança de que, com isso, com novas eleições, o infame e patológico Lula pudesse vencer as próximas eleições. Não me parece possível, pois quem conhece Lula, e hoje a maioria dos brasileiros o conhece bem, jamais o traria de volta.

Mas tudo é possível nesta Terra de Santa Cruz onde um criminoso, como Odebrecht, já amarga dois anos de prisão e lá continua, mesmo após sua delação e o acordo de altíssima multa; e um outro mais falastrão e até orgulhoso de ter cometido crimes ainda maiores, como Joesley, volta livre e descontraído para seu aconchegante refúgio de 35 milhões de dólares na 5a. Avenida,em Manhattan, sem nunca sequer ter sentido na pele, no corpo e na alma o terror de uma noite atrás das grades. Este é o nosso Brasil e esta é a nossa Justiça. Será ela míope? Cega? Será?

Acho que se Shakespeare aqui vivesse hoje novamente diria que “Há algo de podre no reino da Dinamarca”.

Hoje sou Temer


Há um ano estávamos dando adeus à ex-presidente Dilma, e seu mandato catastrófico, e ainda indecisos quanto ao nosso futuro político sob o mandato-tampão de Michel Temer, que assumiu legalmente o poder, como vice que era, mas ao som colérico dos gritos de “Golpe” e “Fora Temer”, de uma oposição cega e surda a todas as falcatruas que ocorriam no país, como sempre ocorreu desde que o Partido dos Trabalhadores chegou ao auge do poder, em 2003.

Foram dias difíceis aqueles. Ficaram em nossa memória e ficarão para a história. Passeatas, greves, quebra-quebra, depredações e ofensas, a todos que não comungavam com a cartilha petista e com a substituição de Dilma por Temer, foram empregadas para desestruturar ainda mais o novo governo. De tudo fizeram eles para denegrir a imagem do novo Presidente que enfrentou com coragem, competência e civilidade, a grave situação deixada pelos assaltantes dos cofres públicos durante os governos Lula e Dilma.

Contudo, transcorrido apenas um ano, o cenário político e econômico mudou. Os índices registrados neste primeiro semestre vêm demonstrando que todos os esforços despendidos pelo Presidente Temer e pelo Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não foram em vão. As medidas impopulares assumidas, como por exemplo, as reformas Trabalhista e da Previdência, polêmicas, mas imprescindíveis, e que fizeram retroceder ainda mais a popularidade de Temer, não o desviaram de sua busca de colocar o país no lugar certo para superar os terríveis obstáculos criados pelos seus antecessores petistas.

Hoje, o gigante da América Latina começa a reagir, a sair do coma em que foi colocado, e os investidores já perceberam essa reação positiva, essa mudança brusca, o que oferece maior credibilidade àqueles que desejam aqui ampliar seus negócios, dando início a uma reversão de posturas, o que trará enormes benefícios ao país e à população, em especial àqueles profissionais que de três anos para cá perderam o emprego e a esperança em recuperá-lo.


Por isso, e muito mais, hoje sou Temer e muito me orgulho de sê-lo. Mas sabemos que no próximo mês haverá o julgamento da chapa Dilma-Temer, pelo STJ, em relação ao abuso econômico e de poder nas eleições de 2014. Como Dilma, hoje, é carta fora do baralho, o que poderá ser atingido mesmo é o atual Presidente da República, mas quero confiar ainda no bom senso do Ministro Gilmar Mendes por duas razões: a primeira é que a Lava Jato tem demonstrado, através de seus delatores, que Temer era somente uma presença figurativa nas campanhas e nos governos Dilma pelo obsessivo autoritarismo da ex-presidente; a segunda é que a interrupção de seu governo, hoje, poderia levar o país novamente ao retrocesso e até, talvez, a uma convulsão social. E nós não merecemos isso 

Sindicatos: a gangue da boquinha


 

O mês de abril está demonstrando, pelas atitudes dos canalhas de plantão de nosso país, que não terminará bem, porque as forças sindicais decidiram se rebelar contra a votação da Reforma Trabalhista em Brasília. Não exatamente contra as leis propostas em relação aos trabalhadores, pois estas nunca foram motivo de preocupação dos sindicalistas, mas sim contra o término da Contribuição Obrigatória dos trabalhadores aos sindicatos. E para isso buscam incendiar o país.

O apego ao dinheiro fácil, sem obrigações e sem controle dos 17 mil sindicatos, que surgiram do nada para nada fazer, nos anos dos governos petistas, exceto sugar ainda mais o minguado salário da maioria dos que têm carteira assinada, não tem limites. Eles se uniram aos demais petistas que como eles não querem perder as infinitas benesses e, também, aos professores de esquerda para quem o ensino não é prioridade, mas sim a ideologia e, juntos, estão ameaçando a sociedade com as paralisações nesta próxima sexta-feira.

O espanto são as escolas particulares aderirem ou aceitarem essa tresloucada atitude dos revoltosos e, em especial, a postura das escolas católicas que após um período em que pareciam ter recuado de suas ideias progressistas a elas estão voltando com toda carga.

O que está havendo em nosso país, afinal?

Será que a cegueira ideológica paralisou os cérebros, apagou a memória do que vivemos em 64, e quer novamente o confronto da população com os militares, para anos depois, talvez, retomar a narrativa chorosa do “golpe” e da “luta pela democracia”? Pois do que sabemos ninguém está lutando por democracia (como não lutaram em 64), pois vivemos num regime democrático, nem por direitos civis, pois eles não estão sendo burlados como pregam por aí. A luta é sim pela volta dos privilégios pessoais ameaçados e pela retomada do poder ilimitado que muitos deles já perderam e os querem de volta custe o que custar.

E esse é o preço que hoje se paga por lá atrás, em 2002, elegermos um indivíduo sem nenhum caráter, sem nenhuma qualidade, mas apoiado por uma esquerda (que se diz intelectualizada) para ocupar o cargo mais alto do país. O resultado aí está: um país saqueado, sem credibilidade; uma população sem emprego e sem horizonte, refém de movimentos insanos e atitudes belicistas dos que não desejam o bem do país, mas a sua derrocada total apenas para salvar a própria pele e se livrar das punições da justiça.

Não vamos ceder a eles. Não vamos pactuar com eles

A Páscoa e os políticos


 
Nesta última Semana Santa, a vida dos políticos brasileiros tornou-se um inferno com a divulgação dos áudios e vídeos das delações dos manda-chuvas da Odebrecht, a maior empreiteira do país. Pai e filho, Emílio e Marcelo Odebrecht, trouxeram à tona as relações promíscuas, entre eles e os chefões de Brasília, principalmente, e descritas em detalhes, com a maior naturalidade e parece até com um certo orgulho pelo grande feito.

A caixa de Pandora foi aberta e já podemos começar a visualizar quanto dinheiro nosso foi para o ralo nestes últimos anos, ou melhor, para o bolso e as contas bancárias, aqui e lá fora, de Suas Excelências, essa gente honesta que nos representa em todas as instâncias do Estado com a maior dedicação e o maior respeito por nós, cidadãos, e pela “res publica”.

Mas não são modelos de exportação, não, pois nunca tantos roubaram tanto! É um fenômeno que exige uma análise cuidadosa, pois embora sempre se dissesse que o brasileiro era criativo, não tínhamos ainda a dimensão real dessa habilidade, do quanto isso era real quando um líder político se via com a chave do cofre nas mãos e a credibilidade em alta. Esta, me parece, é uma situação similar a de um filho que se droga, rouba os pais para adquirir o baseado, mas eles, os pais, jamais desconfiam que estão dando abrigo e proteção àquele que os assalta. E assim procedeu nestes últimos anos a maior parte da população brasileira, dando cobertura àqueles que os assaltavam.

A turma da “ala honesta” do Planalto, porém, chefiada pela” alma mais honesta” do país, roubou o quanto quis, com as bênçãos dos seus pares que recebiam também o seu quinhão e, por isso, mantinham a boca fechada e defendiam com unhas e dentes as malandragens que ali se praticavam, sempre com medo de perderem a boquinha.

E para se manter a continuidade desse esquema, necessário seria dar visibilidade à figura maior que estava no poder, o Sr. Lula da Silva.

Campanhas sofisticadas, caríssimas, como nunca antes se vira, foram ao ar neste país de paupérrimos para mostrar a força do ”Lula-lá” ao seu eleitorado. Tudo indica que o exemplo midiático teve seguidores, desencadeando um processo que uma vez iniciado não tinha mais como ser interrompido. A contaminação se fez e o resultado é alarmante. Políticos de todos os partidos, para poderem competir com aqueles que detinham o poder maior, ou seja, o poder do dinheiro, aderiram ao Caixa 2. E segundo Emílio Odebrecht nenhum político se elegeu neste país sem O Caixa 2 nos últimos anos.

O Caixa 2, portanto, foi a herança maldita que o Pixuleco nos deixou, além da inflação da propina, que embora já existisse no Brasil, jamais atingira valores tão exorbitantes O Lula é mesmo o máximo e deve, por isso, receber também uma pena à altura de seus méritos e de sua criatividade. Mas, vamos ser honestos: nessa história de assalto ao erário público não há inocentes. Só rouba quem quer. Contudo, segundo os denunciados e seus representantes, todos agiram dentro da lei e são, portanto, inocentes, sem exceção. O que acham?

Sonhos que ficam pelos caminhos


 
Domingo, às vezes, se revela um dia meio nostálgico. Para Clarice Lispector seria um dia morno. Talvez porque a nostalgia mescle sonhos, lembranças e saudade; e esta traz à tona alegrias e tristezas. São sentimentos que se somam, se alternam e se confundem. E podem resultar em uma sensação oscilante. Daí a menção à Clarice. Tão enigmática ou tão hermética ao dizer que sentia uma “felicidade morna”. Como assim? diria hoje um jovem não iniciado na escrita da autora de A paixão segundo G.H.

É que ao rememorar alguém ou alguma passagem nós o fazemos com um misto de júbilo e melancolia, se essa é uma boa lembrança, pois ela nos deu prazer naquele momento, mas esse momento já não mais nos pertence, não mais podemos repeti-lo e com as mesmas sensações. Estamos, então, diante do inatingível. E quem de nós não vivenciou essa felicidade longínqua ou essa felicidade incompleta. Ou essa quase felicidade? E a todo instante e em qualquer lugar as imagens pretéritas podem num átimo surgir e se diluir em nossa mente. É mais um mistério da nossa complexidade de ser, de existir.

São assim também os sonhos. Mistérios. Puros mistérios. Mas dão suporte à nossa travessia. Oferecem novos traçados e outro colorido ao que já se tornou opaco pela repetição do já vivido à exaustão. Eles podem ainda revelar outras veredas jamais imaginadas e, então, os vazios são repentinamente preenchidos por novos desejos, concretizáveis ou não, mas que alimentam com doçura esse agora iniciático percurso.

Enquanto isso, o tempo passa. E nós com ele. Mas pelo menos a contínua expectativa de um outro amanhã ameniza o choque dos pequenos desencontros e das perdas mais significativas como o daqueles antigos sonhos que, outrora tão importantes para nós, ficaram inertes e inatingíveis pelos caminhos. Deles, ás vezes, vem uma saudade... Mas são  hoje apenas rememorações. E a vida segue.

E isso me traz à mente um poema delicado de um poeta amigo, Jairo Fernandes:

Sobrou um vazio.

Mas, apesar das crateras,

A Lua continua linda.

Movimentos estranhos


 
Li um dia destes uma afirmação do economista, político e diplomata Roberto Campos que chamou minha atenção. Por ela, ele definia os integrantes do PT do Sr. Lula (que não chegou a conhecer como presidente porque o diplomata faleceu em 2001) de uma maneira que me pareceu bastante pertinente. Segundo ele, “O PT é o partido dos trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam e dos intelectuais que não pensam.”

E como prova da lógica aí existente basta observar os “trabalhadores” que vivem em contínuas manifestações nas estradas e nas avenidas, embora nunca se saiba bem as causas que os levam a atrapalhar o trânsito dos que desejam e precisam trabalhar todos os dias; dos jovens que incentivados pelos colegas e professores de esquerda trocam as salas de aula pelas passeatas contra tudo que não é abrigado pelas bandeiras vermelhas, e intelectuais (e também os artistas) que odeiam a classe média, como afirmou aos gritos a “filósofa” Marilena Chauí, para quem quisesse ouvir, sendo que é esta mesma classe que trabalha arduamente e sustenta o país e também aqueles que nada fazem, como os que vivem de passeatas, bolsas ou patrocínios do governo.

Assim, Roberto Campos me parece foi um visionário por ver mais longe e melhor o que seria o Brasil sob um regime petista, mesmo sem vivenciá-lo, mas ciente do que seriam capazes aqueles dissimulados famintos por dinheiro se abocanhassem o poder, como ocorreu depois. Hoje, pagamos uma altíssima conta por não ter buscado impedir que o discurso populista atingisse a tantos, e com tanta intensidade, pois até agora e depois de expostas as bilionárias falcatruas perpetradas pelos petralhas, os resquícios dessa força ainda agem sobre muitos provando assim que a ideologia é como a fé em excesso que, se não mata, cega os indivíduos.

E essa cegueira pode ser constatada num movimento estranho, muito estranho, surgido nos últimos dias com uma lista elaborada por artistas brasileiros, compreendendo em torno de 400 assinaturas, que pede a urgente candidatura de Lula para 2018. Ou seja, desejam a sua volta triunfante para livrá-lo da prisão e, então, colocar de novo o país na alta rota do crime organizado e da propina fácil e abundante.

Acho, porém, que isso não acontecerá, não. Acho que Temer e Meirelles estão buscando outras metas para o país e é por estas que a maioria anseia e não pelo retorno de Lula e sua gangue. E acredito que a Lava Jato certamente agirá antes, concretizando, assim, o sonho dos brasileiros de bem, que é o de ver Lula a caminho, não do Planalto, mas de Curitiba, pois é lá, bem próximo de Sérgio Moro, que o canalha-mor do país deve desfrutar seus últimos dias como farsante inglório deste cenário trágico em que ele nos confinou.

 

 

As turbulências de março


 

Findo o carnaval, a rotina das notícias políticas e judiciais voltam a ocupar com força todas as mídias. E nós acompanhamos sem muito entusiasmo o que nos é informado sobre as decisões a serem tomadas em Brasília, em especial pelo Congresso Nacional e pelo Supremo Tribunal Federal, já que conhecemos o ritmo e as surpresas que permeiam as discussões e as decisões por eles tomadas.

A população não vê com bons olhos, nem as falas exaltadas dos parlamentares ao defender ou rejeitar qualquer projeto em votação no plenário, nem a expressão mansa e quase sempre erudita de muitos magistrados quando do julgamento de qualquer processo que caia nas mãos desses eminentes togados.

Por exemplo, a liberação de criminosos, como o goleiro Bruno, liberado pelo juiz Marco Aurélio Mello, do STF que matou a namorada e, segundo relato dele mesmo à época do crime, dela nada restou porque até os ossos foram devorados pelos cães. Verdade ou não, o corpo nunca apareceu, mas só mesmo o autor de um ato horrendo como esse poderia confirmá-lo. Mas, certamente, seu depoimento posterior deve ter sido outro, ou não estaria hoje, para surpresa de todos nós, fora das grades e segundo informações dadas à imprensa sendo disputado pelos clubes de futebol, por ser um expert, para voltar a empolgar os torcedores e definir os resultados dos jogos quando do sistema “mata-mata”.

A população também não mais acredita na lenga-lenga dos políticos que juram defender os interesses do país quando diante de votações importantes como a da Previdência, por exemplo, se mostram contra essas mudanças porque, segundo eles, a reforma da Previdência é prejudicial aos trabalhadores, mesmo cientes de que se nada for feito, esses mesmos trabalhadores, e outros que os seguirão, não mais terão os seus benefícios pagos dentro de poucos anos porque não haverá dinheiro em caixa para tanto.

Esses políticos sabem disso, têm ciência do gravíssimo problema que se arrasta há muitos anos e foi sendo deixado para trás, de forma irresponsável pelos governos anteriores, por ser essa uma medida impopular, mas preferem eles, por motivos ideológicos, remar contra a maré, ir contra a lógica dos fatos e tumultuar as sessões da Câmara com gritos e ofensas, dando a impressão de que estão preocupados com o povo, quando na verdade o que buscam é aparecer na mídia e gravar essas imagens para a próxima campanha eleitoral.

Assim, esses populistas vão se perpetuando na política com altíssimos salários e privilégios mil, às custas de uma população ingênua que neles acredita e nas urnas coloca confiante o seu voto, certa de que está fazendo um bem para o seu futuro e o do seu país.

“Pobres ignorantes”, diria Guimarães Rosa, “quem menos sabe do sapato é a sola.”

Um lembrete: a sola de um sapato nada vê senão o chão. Leiam o belíssimo conto “Uai, Eu?!”, da obra Tutaméia e nele encontrarão a frase. Esse Guimarães é incrível!

Uma reação bem-humorada

 
 
Se toda ação provoca uma reação, como nos ensinou a 3ª. Lei de Newton, “o geômetra divino”, segundo o poeta William Blake, essa reação no nosso pequeno mundo pode ser aguardada como positiva ou negativa. E ninguém duvida disso. E é essa a razão por que tememos tanto expor uma ideia ou algo novo, uma estranhíssima criação artística, por exemplo, pelo medo da crítica severa de alguns que com essa novidade não se identificam. Mas sem ela, sem essa atitude lúdica ou, às vezes, de ousadia, viveríamos na mesmice.

A verdadeira criação artística, entretanto, não é, me parece, apenas obra do acaso e sim um dom que se adquire com muito estudo, boas influências e incansável persistência, além é claro de uma boa dose do que acima se denominou ousadia. E quanto mais leio sobre a trajetória daqueles que se sobressaíram, seja na ciência ou na arte, mais me convenço disso.

Ainda ontem, enquanto aguardava ser atendida na sala de espera de um consultório, aproveitei para rever/reler uma obra sobre a arte fotográfica do mestre insuperável na captação de imagens Henri Cartier-Bresson. Por ser uma edição “de poche” cabia perfeitamente em minha bolsa. E para esses momentos, que às vezes se alongam, gosto de carregar comigo livros assim. E o que esse pequeno livro de Clément Chéroux não promete em suas dimensões, nos entrega em seu conteúdo.

As fotos mais famosas do mito da fotografia ali estão e também os relatos do momento em que foram flagradas. “Obra de gênio” pensamos, e não há erro nisso porque a qualidade visual e os seus detalhes o confirmam. Mas se lemos atentamente a parte introdutória, isto é, o capítulo que discorre sobre sua formação, imediatamente compreendemos que a genialidade de Bresson é real; contudo, ela se fez também no contato à época com uma arte muito viva na França. Seu encantamento pelos registros do mundo se deu primeiro com a pintura e o convívio com surrealistas famosos, com o gosto pela geometria, e tudo isso acabou por se imortalizar em suas fotos depois. E estas, hoje, são também influências importantíssimas para os que se aventuram na carreira fotográfica.

Contudo, não é bem sobre isto, sobre a grande arte e seus expoentes, que pretendia comentar no início de minha crônica, e menos ainda de efetuar comparações entre eles e as minhas impertinências poético-literárias, mas sobre a questão da ação e reação, fenômenos interligados que acima mencionei, e que me vieram à mente pela consequência da publicação de dois haikais (seriam eles haikais mesmo?) em meu blog.

Um amiga (de verdade e não apenas de facebook), me enviou um e-mail comentando essa minha brincadeira poética, complementando-a com um outro haikai também. Essa reação de Giselda (esse é seu nome: Giselda Bortoletto) me trouxe uma doce alegria porque essa amiga é uma professora, como eu e da mesma área, e competentíssima em sua carreira. Seu texto é sedutor demais e ela só não fez sucesso como escritora porque não optou pela publicação do que escreveu, pois quem lê, escreve, e esse  material certamente se encontra muito bem escondido em seus guardados.

Eu a conheci na Fundação Carlos Chagas, quando por alguns anos ali desenvolvemos trabalhos de análise de textos de concursos vestibulares e outros, com maior complexidade ainda, e essa amizade ultrapassou as barreiras de espaço e tempo, ficando seu nome e sua imagem em minha mente, envolvidos por uma auréola de carinho, assim como de Anna, de Marize e alguns outros.

Mas vamos ao bem-humorado haikai de Giselda, objeto desta minha crônica:
 

“Dias escorrem

Fevereiro chove e abrasa.

Neiva escreve pra nós.”
 

(Giselda Bortoletto)

 

Obrigada, Giselda, por ler meus textos e por eles também se deixar envolver, contribuindo ainda para a sua dispersão.

Haikais

Haikai 1

O menino cresceu
e cresceu.
Na sala, a cadeira sentiu o vazio.

Haikai 2

No esmaecido azul, o sol se põe
de novo.
À janela, porém, alguém ainda espera.
Pelo quê?

As últimas páginas


Lentas e lúdicas são as primeiras linhas.
Construídas com esmero diáfano
ao abrigo das intervenções externas
no aconchego mater pater e frater.

Reverberações outras se seguem.
Novas figuras se enovelam
e a vida borbulha em emoções.
É um outro parágrafo
um outro parênteses
de êxtases.

Mas a narrativa acelera seu curso.
Os personagens se perdem no enredo
O clima se torna tenso
nublado.
E no virar das páginas
a surpresa:
a vida se reconfigura
e não mais parece ficção.

Que pena!


O verão, mas...


Os dias de sol são inigualáveis. Mais belos pela luminosidade. Mais esperados pela alegria neles contida. Desde as primeiras horas eles despertam em nós novos impulsos, novos desejos. E os dias se seguem nessa expectativa de que a felicidade, ainda que passageira, estará ao nosso alcance nas próximas horas, seja com um passeio programado, seja com o reencontro de pessoas queridas que em geral, nesse período, saem de seus casulos para reviver bons momentos com os amigos. E para comprovar basta conferir as imagens das praias numa profusão colorida de biquínis e no burburinho caótico e calórico dos barzinhos.

Gosto do verão. Não pelas praias. Não pelos barzinhos. Não pelas multidões. Mas por tudo que ele possibilita em meu mundo interior. Ainda que nada excepcional ocorra, a presença do céu azul promissor já alegra minhas manhãs. E penso que viver é uma dádiva divina e que nem sempre sabemos valorizar. Porque a vida é um fio do qual desconhecemos a extensão e que de repente se rompe. Apenas isso. Mas enquanto a interrupção não ocorre, quantos sonhos, quantas emoções poderemos ainda saborear e compartilhar. E isso é o que tempera o nosso existir.

Mas como nada é perfeito, existem os pernilongos. E um pernilongo é essa figurinha minúscula, voadora e inatingível pelas nossas mãos canhestras que atormenta o nosso sono, esgota a nossa paciência e, vampiricamente, penetra em nossa carne para sugar o nosso sangue, como se este fosse o licor dos deuses.

Como odeio os pernilongos! E estamos no século XXI, com todo o avanço tecnológico que as pesquisas científicas têm desenvolvido! Contudo, eles, os pernas-finas, continuam zombando de nós, cientes de que os inseticidas disponíveis no mercado mais mal produzem em nós, seres humanos, do que a eles. Por esse motivo, deixamos de usá-los e, assim, os minimonstrinhos voam leves e soltos numa coreografia festiva de dar inveja à Pina Bausch.

Não sei não, mas tenho algumas dúvidas. Será que a falta de projetos voltados ao Saneamento Básico no país não será a razão maior do recrudescimento dessa praga nos últimos anos entre nós? E será que o dinheiro não investido nessas áreas de esgoto a céu aberto, e outras, não foi parar na conta de inescrupulosos políticos? Será, então, que até nas patas dos malditos pernilongos encontraremos também as digitais do molusco de Garanhuns para nos tirar ainda mais o sono?

Volte logo, Sérgio Moro, e nos tire pelo menos o pesadelo de saber que além dos pernilongos há um outro objeto voador nos céus do Brasil, mais maléfico e em campanha, buscando acabar de vez com o que sobrou do país e dos nossos sonhos. Volte logo, Moro e acerte na mosca desta vez.