As horas que faltam


Mergulhado no mundo analógico, os ponteiros de meu relógio continuam seu movimento preciso. Nem mais lento, nem mais rápido. Acompanham o tempo do espaço em que estamos inseridos em seu ritmo cadenciado, monótono, insensível. Insensível ao que me traz angústia ou alegria. Parece se alongar quando o medo ou a ansiedade me dominam e saltar os segundos, as horas, quando algo ou alguém me faz feliz. Entre meus sentimentos e o tempo não há sintonia, tenho certeza.

Neste ano que agora termina, 2015, a sensação de inércia temporal foi intensa e permeou todos os momentos de tensão, que não foram poucos, o que indicia não ter sido este o melhor ano para mim e para muitos daqueles a quem eu quero bem. Insônia, decepções, desencontros, perdas, dor e angústia tiveram sua cota bem elevada nestes meses que pareciam intermináveis. Mas dezembro chegou. Tropeçando aqui e ali o ano nefasto vai chegando ao seu término e muitos de nós vamos, daqui a algumas horas, comemorar com um certo alívio o fechamento das cortinas de um cenário que ambientou neste período o teatro do absurdo nacional.

A dúvida que fica é “O que nos reserva o próximo ano?”

Não sei ao certo, mas no plano político a bolha de tensões irá explodir, me parece. Para tudo há um limite. E a população não ficará inerte diante de tantas mazelas e de tanta desfaçatez pelos que deveriam fazer valer as leis. No plano econômico, teremos dias difíceis porque o desemprego trará muita insegurança e infelicidade às famílias. Na educação e na saúde, o quadro é desolador porque o dinheiro necessário a essas áreas, e usurpado pelos petistas em ação, faz e fará muita falta ainda a toda a população, em especial à mais carente. E em todas as outras áreas a situação é similar. Não há porto seguro. Não há perspectiva de superação dos nossos problemas. E o noticiário internacional já dá ênfase à ”queda do Brasil”.

E pensar que a gerentona ciclista para provar a sua força política e, assim, provocar os seus desafetos, que são a maioria dos brasileiros, sai em sua bike pelas avenidas de Brasília (protegida pelos guarda-costas, é claro), lembrando-nos com esse gesto que ela pode dar as suas “pedaladas” à vontade sem sofrer impeachment porque há os lewandovskis de plantão prontos a lhe dar a proteção necessária para uma longa e próspera gestão presidencial.

Faltam apenas algumas horas para a chegada do Novo Ano. Que os ponteiros andem rápido e, assim, nos tragam um ano melhor, como queria Chico Buarque no passado, “afastando de nós esse cálice/cale-se” transbordante, hoje, do mais puro veneno da ideologia populista de esquerda.

Poema enxuto

Sob o chuveiro
Fiz um límpido poema.
Ao sair dele, enxuguei meu corpo
E por distração também meu cérebro.
As palavras alçaram voo
E meu poema secou...secou
Dele, nada mais restou.