O inocente útil


Estive por uns dias afastada do mundo das atividades rotineiras devido a uma crise aguda de diverticulite, doença que em geral acomete e maltrata as pessoas com mais de sessenta. Mas pelo silêncio no entorno, não me distanciei muito do mundo das reflexões. É que o silêncio nos permite um mergulho mais profundo nas questões e posturas que no burburinho das falas e dos afazeres costumeiros, às vezes, se embaralham e nos deixam meio confusos.

Nestes dias, familiares e alguns amigos estiveram comigo, ou me ligaram, o que me deixou feliz por sentir que os laços afetivos resistem a todas as alterações resultantes de posturas modernas e pós-modernas. Na verdade, continuamos os mesmos e necessitamos do outro nos momentos de fragilidade, principalmente, para nos sentirmos seres mais humanos, completos e seguros.
Entre aqueles que se dispuseram a enfrentar as altas temperaturas e o trânsito cada vez mais caótico de nossa cidade para me trazer um afago em forma de flores, uma fruta especial ou uma revista, ou seja, um pouco de carinho numa forma menos abstrata, esteve comigo um amigo de longa data. Pessoa culta que lê e gosta de esportes, romance, poesia e teatro. É bem informado, viaja com frequência e ocupa um alto cargo em uma empresa multinacional. Ou seja, fez uma carreira de sucesso e graças a ela, hoje, pode usufruir das benesses de uma vida confortável, embora sem excessos.

É o que podemos chamar uma boa pessoa e uma pessoa do bem. É prestativo, bem-humorado e bem informado sobre o que ocorre no mundo, Mas como nada é perfeito, esse meu amigo, de quem gosto muito, não consegue ver/perceber o que acontece em nosso país: as mazelas de nossos governantes. Acredita ele, como o personagem Cândido, de Voltaire, que o mundo é bom, as pessoas são sérias e tudo que fazem é para o bem do mundo. Será mesmo? eu perguntava a ele. Sim, ele acredita piamente que o Programa “Mais Médicos”, por exemplo, busca auxiliar os brasileiros e não o governo cubano, que ao perder a ajuda financeira da Rússia e, mais recentemente, da Venezuela, com a morte de Chaves, precisa urgente de dinheiro para se manter, o que confirma a afirmação de Margaret Thatcher de que o socialismo é um sistema que se mantém “enquanto durar o dinheiro dos outros”, pois pela ótica socialista todo empresário é um explorador.

Então, pelo socialismo, não se pode produzir riqueza, isso é uma exploração do outro, mas pode-se desapropriá-la dos que a produziram para distribuí-la conforme a determinação de quem está no poder. E os “médicos” cubanos são um ótimo exemplo dessa sistemática. Vêm para o Brasil (e também para outras regiões cujo nível de informação da população é zero) e o nosso governo paga por seus serviços R$10 mil reais mensais (mais os custos trabalhistas que dobram esse valor) para cada servidor cubano. O que nunca ofereceu aos nossos médicos, formados, com diplomas registrados e longa experiência de Residência Médica em hospitais de renome internacional. Contudo, desses dez mil reais pagos aos médicos, paramédicos, ou sei lá o quê, eles recebem apenas 30%. Os 70% restantes são encaminhados aos ”caridosos” irmãos Castro, amigos íntimos de Lula e Dilma, que há quase 60 anos escravizam esse povo sofrido, mantendo-o distante da “malévola influência” dos imperialistas norte-americanos, esse povo” horrível” que vive com liberdade num regime democrático e que tem seus direitos respeitados por uma Constituição enxuta, clara e que realmente leva a sério os Direitos Humanos de toda a população e não apenas dos filiados do partido do governo.

Pois é! Meu amigo não consegue perceber essas sutilezas macabras exercidas por quem nos governa e que, atualmente, vem acabando com o nosso país, destruindo tudo aquilo que o governo FHC conseguiu com a criação e implantação do Plano Real, conseguindo, dessa forma, equilibrar a economia, acabar com a secular inflação e oferecer, com isso, melhores condições de vida à população brasileira, a qual pela mesma ignorância ou miopia, como a de meu amigo, atribui o feito miraculoso ao governo do PT, que se utilizando de artimanhas marqueteiras stalinistas apaga do passado imagens e fatos que a eles não interessam, substituindo-os por figuras e feitos de seu partido como se estes fossem realmente os autores de tais façanhas e não os outros.
Que pena que assim seja, que mesmo depois das provas do Mensalão, que espertamente blindou o chefe da quadrilha, Lula da Silva, existam ainda aqueles “inocentes úteis”, como o meu amigo, que se prestam a defender bandidos dessa espécie e se aborrecem profundamente por não concordarmos com a visão heroica que eles ainda têm sobre esses vilões.