Papai Noel de verdade?


Olhinhos espertos. Curiosos. Surpresos diante da vitrine com o gordo velhinho, de barbas brancas e roupa vermelha, Kevin me perguntou. É outro, vovó? É outro Papai Noel?

Como? Às vezes somos surpreendidos com as perguntas infantis e precisamos pensar rápido para não decepcioná-las, mas nem sempre acertamos. Kevin ainda não tem três anos, mas logo à entrada do shopping foi recepcionado pela figura sorridente do Papai Noel que afagou sua cabecinha num gesto carinhoso. Ele sorriu meio tímido, e parecia ter-se sentido atraído pelo afago, pois ficou olhando para trás, enquanto nos afastávamos em direção à profusão de cores das vitrines no interior do shopping.

Agora, depois de passar por várias lojas, ele se vê novamente diante de uma imagem similar, de roupas vermelhas, que, de dentro de seu limitado espaço de exposição, acena para os que estão do outro lado do vidro. Ficou intrigado. Daí aquela sua pergunta: É outro, vovó? Não, meu bem, tentei explicar. Aquele é de verdade. Este é só um boneco. Ele representa o Papai Noel de verdade que brincou com você. Ele se calou. Eu também, pois percebi imediatamente que dera a resposta errada. Papai Noel de verdade?! Que resposta idiota. Mas o melhor seria esquecer essa conversa.

Mas nem sempre é fácil esquecer o que dizemos. E enquanto percorríamos as “ruas” comprimidas entre as lojas de sapatos e bolsas, roupas, joias, brinquedos e objetos de decoração, ele observava atentamente os enfeites natalinos tão cheios de cor e brilho, e eu pensava em como consertar aquela frase infeliz sobre o Papai Noel de verdade. Mas, segurando aquela mãozinha tão pequena na minha, e olhando aquele rostinho encantado com as vibrações do entorno, senti que era muito cedo para entrar numa questão filosófica como aquela sobre verdade e mentira para explicar a existência de representações e simulacros que nos acompanham pela vida toda. Daqui a pouco ele nem se lembrará mais do que eu disse. Compramos um carrinho de brinquedo bem pequeno, como é a sua preferência agora, e nos encaminhamos para a porta de saída.

E lá estava o Papai Noel de verdade, de novo. Agora, porém, Kevin não se intimidou e correu até ele. Recebeu um novo afago e, então, fez tchau para o bom velhinho. Já na calçada, esperando o táxi, perguntei se ele gostara do passeio e ele disse: Sim. E do que você mais gostou? E entusiasmado ele completou: Do Papai Noel de verdade. Ele é muito grande! Ele é muito forte! Ele é forte igual o Huck! É mesmo, Kevin? É, vovó, mas o Huck não é de verdade. Ele, ele, é só um desenho. Feliz, apertei mais forte sua mãozinha. Tenho ainda muito que aprender com esse pingo de gente.

Promessas

Final de noite. Final de domingo. Liguei o computador e pensei: vou escrever minha crônica. Mas não quero pensar em política. Hoje estou de folga dos problemas do mundo. Tirei o dia para amenidades. Foi um dia de chuva miúda e contínua, de preguiça alongada, como os passinhos dos ponteiros dos relógios analógicos. Tinha tudo para ser triste, mas não foi. Tivemos um almoço alegre em meio à família e a delícias gastronômicas. E também direito a vinho. Delícia! São momentos que se colam à memória e nos deixam com saudade depois.

Então, o melhor é esquecer o soco no estômago com o resultado das eleições americanas. (Não! Não! Donald Trump, não!) Mas como esquecer o nefasto Trump se é ele, sim, o vitorioso? E para a desgraça de muitos! Principalmente para aqueles que residem nos países como o nosso que, no momento, se encontram sob e sobre os escombros da terra arrasada pelo desfalque monumental cometido, aqui, pelo Partido dos Trabalhadores, e que começava agora a tentar se equilibrar com as medidas adotadas por Temer, Meirelles, Serra e outros que buscam agora, a duras penas, reerguer o país, reerguer a nossa Economia para dar dignidade àqueles que foram lesados pelo populismo e pela ganância sem limites de Lula e seus comparsas.

Ainda estou indignada. Por isso, enviei um e-mail para uma pessoa muito querida, Heloísa, dizendo: “ ‘Aquela coisa’ venceu as eleições norte-americanas e colocou o mundo em estado de pânico. Para mim foi uma surpresa muito negativa, mas espero que os republicanos consigam controlar aquele destrambelhado”.

Trump, tudo indica, será o fantasma que assombrará a vida de muitos pelo mundo todo porque insinua ele fortalecer os laços com o perigoso Putin, de quem é admirador. E assim a força da Rússia, sem ser freada pelos Estados Unidos, poderá novamente assomar outros patamares no espaço geopolítico, como no passado, e aumentar ainda mais os conflitos bélicos para satisfazer os sonhos de poder absoluto, acalentados pelo dissimulado Putin desde os tempos da KGB.

Será que estou delirando? Certamente não, mas sinceramente gostaria de estar. São ideias plausíveis estas diante do histórico de ambos, por isso o medo. E esse medo só se dissipará se no próximo ano, ao assumir a Presidência, Trump, o fanfarrão, tomar medidas contrárias às que anunciou durante toda a campanha eleitoral, as quais foram negadas logo após o resultado do Colégio Eleitoral, no discurso da vitória.

Como acreditar, então, nas palavras desse homem voluntarioso, boçal e sem planejamento para governar a maior economia do mundo e, consequentemente, os destinos das nações, porque bem sabemos que qualquer turbulência nos países que são as grandes potências como EUA e China, hoje, será um tsunami para o resto do mundo.

O que nos resta é esperar. E procurar não estragar um domingo como o de hoje que começou bem, apesar da chuva, mas com lembranças nebulosas, pois prometi a mim mesma não pensar em política, porém não consegui cumprir com o prometido. Espero, então, que outros, mais poderosos do que eu, também façam o mesmo, ou seja, não cumpram certas promessas e nos deixem viver livre e plenamente a rotina dos nossos dias, sem medos e sobressaltos e com direito a sonhar com um futuro bem melhor, e não o contrário disso.

Seguir ou não o figurino?


Estamos vivendo um tempo paradoxal de rebeldia aparente e subserviência insuspeita. Todos temos de ser modernos, queiramos ou não. E ser moderno, hoje, entre outras posturas, é estar inserido nas redes sociais. Quais? Todas, me parece. “Como? Você não usa whatsApp?!!” É o espanto sincero diante de uma negativa para uma pergunta sobre esse suporte tecnológico que hoje está na palma da mão de todos: jovens e idosos. Então, não nos resta outra alternativa senão mudar a postura e aderir a tudo que surge nos novos meios de comunicação?

E se eu me negar? Bem, essa decisão leva, sem dúvida, à exclusão e a um problema de relacionamento com os seres mais antenados da atualidade. Tenho amigos que já não abrem mais os e-mails. “É tão ultrapassado, tia!”, me disse uma sobrinha. Pois é, ele como nós já está perdendo o espaço anteriormente adquirido, a ele já está se colando o rótulo de velho, de ultrapassado. E é uma tendência contemporânea, pois o mercado nos premia com uma frequência cada vez maior, em um tempo cada vez menor, com os produtos inovadores de que nos tornamos reféns, se quisermos nos manter conectados e atualizados.

Mas e a nossa liberdade de escolha? A nossa independência, pela qual todos lutamos um dia, e que hoje se tornou uma guerra ainda mais acirrada, em especial pelos jovens e adolescentes, que em sua maioria ignoram as orientações dos pais por considerá-los “cartas fora do baralho” por não mais terem argumentos para dialogar com esta geração diferente e tecnológica.

Serão mesmo tão diferentes estes jovens em sua rebeldia? Não foi sempre assim no passado? Serão mesmo tão independentes, tão autossuficientes e detentores de saber, como exteriorizam? Tenho dúvidas. Sei que o aprendizado das novas tecnologias é por eles assimilado de forma invejável, mas e quanto a outras competências? Leituras de mundo, discernimento entre o certo e o errado? Os fatos registrados nos últimos dias provam o contrário, me parece.

A invasão das escolas por alguns grupos, por todo o país, é um índice do fenômeno “Maria vai com as outras”, da ausência de discernimento desses garotos do que acontece realmente no Brasil. Conduzidos e manipulados por grupos de esquerda, entre eles pais, professores e até “autoridades”, que deveriam todos zelar pela integridade física, psicológica e intelectual desses jovens, quase crianças, ficaram estes à mercê de projetos ideológicos de adultos mal informados, alguns, e mal intencionados, outros. E estão sendo eles mesmos as maiores vítimas desse processo. Tanto é que um garoto ali foi esfaqueado por outro e perdeu a vida, e uma garota, de apenas 16 anos, foi colocada como porta-voz desses grupos, acusando em sua fala os políticos pela morte ocorrida nessa instituição invadida por eles. Pode isso? E ela deve estar se achando o máximo!

Esses fatos comprovam a incoerência entre a afirmação de que os jovens da atualidade, conectados e antenados, constituem uma geração independente, que sabe o que quer e sabe o que faz, porque detêm todas as informações “on line”, pois se assim fosse, estariam eles estudando para realizar o exame do ENEM, na data preestabelecida, e assim preparando o seu futuro e o de seu país, destroçado nos últimos anos por uma esquerda irresponsável, e não estariam ali, subservientes a representantes de ideologias caducas, celebrando a vitória da ignorância e da anarquia nas escolas. Um lembrete a eles: O saber, meninos, não se faz só com a aquisição de iPhones; exige escola, tempo e estudo. Muito estudo!