Tempos de ódio

Entrei na Livraria Cultura no último sábado e percorri, sem pressa, as prateleiras e as "esculturas" de livros espalhadas pelo espaço que nos conduz aos pavimentos superiores. Tantas novas obras! Tantas reedições com novíssimas capas sedutoras! E tantos jovens lendo preguiçosamente, como recomenda Rubem Alves, e pensei bem baixinho:O mundo está melhorando! Mas de repente me deparei com a obra A negrinha, de Monteiro Lobato. As vozes severas dos jornalistas e repórteres das TVs nos últimos dias me assaltaram a mente e, assustada, pensei: Meu Deus!, será que vão alterar o título dado pelo autor? Será que vão proibir o livro, como já foi tentado há pouco tempo? Será que vão considerá-lo racista de novo? Voltei para casa, me lembrando de William Waack. Que mundo cruel!

Vivemos tempos difíceis. Muito difíceis. A grita pelas novas bandeiras em defesa da liberdade de expressão (própria e nunca a do outro); das mulheres, como se fossem todas umas coitadinhas  inofensivas e incapazes de fazer o mal a alguém (o que não é verdade, sabemos); do preconceito contra o que agora é considerado diferente, como os negros, os pobres, os incultos, os gays e similares, e tantas outras categorias que nunca considerei diferentes por esses motivos, pois a boa relação com o outro depende de  fatores diversos como afinidade, por exemplo. Gostamos de algumas pessoas e não apreciamos outras, mas não pelas razões acima.

Essa postura me parece um excesso e, pela minha ótica, não humanizará ninguém. Não é pela força e pelo grito que se muda a visão de mundo das pessoas. E sim pela educação, pela busca contínua, na família e na escola, do respeito recíproco entre todos. Sem isso, não se chega a lugar nenhum. 

 A mim parece que as pessoas diminuíram a dose de tolerância umas com as outras. E a hipocrisia domina os espaços onde ela parece reinar. Todos hoje se dizem amigos porque se encontram sob o manto do face book, mas é ali mesmo que manifestam seu mais profundo ódio a quem se coloca contra suas ideias. E essas divergências alcançam até os laços afetivos mais delicados. O que estremece o diálogo antes existente entre eles, e isso não é o ideal, entre nós, porque precisamos da existência do apoio mútuo em nossos relacionamentos, precisamos do outro para dar plenitude à nossa existência.

Não fujo à regra porque sou também um produto do meio, e tenho minhas opiniões como os demais, o que é óbvio, mas evito discussões abertas que podem atingir um nível indesejável. Por isso, eu as expresso aqui, em meu blog, buscando não ofender àqueles que me leem e divergem dos meus valores. Embora nem sempre consiga deixar a ironia de lado, em especial quando me refiro a políticos ou outras autoridades com o mesmo peso. Mas muitos deles merecem, sim.

Hoje, depois de muito tempo, enviei um pequeno texto para o "Fórum dos Leitores", do Estadão. Falo sobre a nossa ex-Presidente (de quem não sinto saudade) e a sua mais nova autodenominação. O título é "A presidentA 'Work alcoolic' ". Se ele for aceito, será publicado amanhã ou depois no jornal. E, se isso ocorrer, comentarei aqui para os que me leem, sem preconceitos.

2 comentários:

  1. Minha amiga Neiva. Vivemos tempos de ódio, tenho receio e tristeza em pensar no que vai resultar tudo isso. Que pena! O desamor é fruto da falta de esperança num mundo melhor. Não quero entrar nessa "vibe". Beijos com muuuuuita saudade.

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  2. Obrigada, Marize, por acompanhar meus escritos e gentilmente com eles concordar. Às vezes me lembro de nosso grupo da faculdade: Nadra, Mariza e outras, e sinto saudade. Como o tempo, devagar...devagar..., separa os amigos! Ainda bem que com você, hoje, mantenho contato. Que bom!
    Um beijo.

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