Por isso, quem se envolve com o universo da linguagem tem sempre o que dizer e assim a literatura nunca se esgota. Há sempre novas passagens a serem retomadas pelos escritores que atentos a esses registros nos transportam para esses mundos, às vezes sombrios, às vezes de ingenuidade e magia. Gosto de autores que sabem como nos conduzir por essas veredas tão íntimas e e tão imprevisíveis, por meio de um registro estético contagiante, que nos permite visualizar as cenas descritas como se ali estivéssemos lado a lado, vivenciando tudo.
Há poucos dias, me dei de presente a obra Gaveta dos guardados, do artista plástico Iberê Camargo. Que delícia de leitura ele nos propicia com os seus "guardados", as lembranças da infância e adolescência. Ali, os seus medos, as suas agruras e, depois, as suas primeiras paixões de garoto (e as proibições, pela pouca idade), suas experiências e seus sonhos. Fragmentos labirínticos de memórias em prosa poética sedutora. Na última parte, a biografia do artista plástico internacionalmente reconhecido e premiado em que ele se tornou. Premiados também deveriam ser os seus escritos.
Da dedicatória da obra, aqui o breve e delicado texto poético de Iberê à Maria, sua amada.
"Depois (à Maria)
Quando eu estiver deitado na planície, indiferente às cores e às formas, tu deves te lembrar de mim. Aí, onde a planície ondula, a terra é mais fértil. Abre com a concha da tua mão uma pequenina cova e esconde nela a semente de uma árvore. Eu quero nascer nesta árvore, quero subir com os seus galhos até o beijo da luz. Depois, nos dias abrasados, tu virás procurar a sombra, que será fresca para ti. Então, no murmúrio das folhas eu te direi o que meu pobre coração de homem não soube dizer."
(Iberê Camargo)
Quem assim escreve, jamais será esquecido. Ficará, sim, na "gaveta dos guardados" de todas as Marias.
É mágico, que beleza de associação harmoniosa de palavras e imagens de sentimentos. IBERÊ CAMARGO deveria ter a sua obra em exposição permanente e itinerante, ser (re)visitada e a todo o momento sonharmos com a profusão de cores e imagens que despertam outros valores. Por favor, Neiva, vasculha a tua “gaveta dos guardados” e presenteia-nos com ritmos e imagens que nos tocam a parte mais profunda e emocional do nosso VIVER. Grata, beijos
ResponderExcluirMuito me alegra, Graça, que se tenha sentido envolvida pelas palavras do artista plástico, e também das letras, Iberê Camargo. Eu, como você, achei a sua "Dedicatória" muito delicada, muito humana. Por isso, me senti impelida a aqui reservar um espaço para ela. Bjs
ExcluirQuanto aos meus "guardados...