Lugares e culturas


 
Televisão, para mim, não é objeto de paixão ou de entretenimento. Dela me interessam os noticiários, entrevistas com intelectuais que admiro ou personalidades realmente importantes. Mas abro exceções, é claro, para atividades artísticas de qualidade e documentários sobre lugares e culturas.

Imagens pouco comuns do Japão têm sido reveladas pela Globonews, nos últimos dias, numa série interessante que vale os minutos despendidos diante da tela da TV. E algumas delas nos surpreendem pela beleza estética; outras, pela postura educada e respeitosa, o que contrasta com o que vivenciamos em nosso país.

Um outro documentário também me levou a refletir sobre as diferenças abissais entre nós, brasileiros, e outros povos, como os dinamarqueses, por exemplo. A rotina tranquila, segura e ética vivenciada pelos habitantes da Dinamarca nos deixa perplexos. Como podem eles manter lojas comerciais sem funcionários e até sem a presença do proprietário, contando apenas com máquinas que recebem o valor das mercadorias, seja em dinheiro, seja em cartões, sem nunca serem lesados? Ou como enviar crianças de apenas quatro anos, à escola, sozinhas, certos de que elas lá chegarão sem problemas? E se, porventura, acasos surgirem, alguém estará atento para ajudá-las, pois para a população desse pequeno e invejável país o cuidado com as crianças é dever de todos e não apenas dos pais. Isso nos mostra que, em casa ou nas ruas, elas sempre estarão protegidas, seguras. Quão diverso é aqui no território tupiniquim!

Sabemos das diferenças culturais entre os povos, das extensões geográficas distintas, mas diante das imagens captadas pela câmera de um bom fotógrafo e da competência de um bom jornalista, esses instantâneos imagéticos ganham nova dimensão e provocam reações inesperadas no telespectador “Eu também gostaria de estar ali”, diz algo dentro de nós, ainda que relações fortíssimas nos unam à terra onde nascemos. É o pertencimento.

Está na moda o interesse por cidades mais exóticas, como as dos países asiáticos. Não conheço nenhuma ainda, mas gostaria. Sei, contudo, que muitas delas reservam mistérios abissais e conquistam os que ali se arriscam a passar uma temporada, seja por estudo ou trabalho, seja pelo puro desejo de gozar férias diferenciadas. E a magia acontece quando de lá retornam. É que, com eles, vêm também ternas memórias que não mais se apagam, e estas instigam neles o desejo de um dia voltar para revivê-las nessas longínquas e singulares paisagens.

Por curtos períodos transitei por alguns países e deles me recordo por fragmentos de imagens, às vezes registrados pela câmera; à vezes, não. Apenas pela mente. São lembranças que retornam e se ligam a fatos, lugares específicos ou pessoas. E, como num filme, a imagem inicial vai se desenvolvendo e revelando cenas já esquecidas pelo tempo. E então percebo o porquê do recorrente clichê: “recordar é viver”.

Da Rússia, país meio europeu, meio asiático, que também está sendo objeto de uma série da TV pelos jogos do próximo ano, estão chegando cenários que nos surpreendem. Diante do colossal projeto arquitetônico de São Petersburgo, que é o Museu Hermitage, um dos maiores e mais belos do mundo, é impossível, para quem já esteve em seu interior, não recordar o seu precioso e belíssimo acervo. Ali, obras de Rotchenko, Kandinsky, Malevich e Matisse ( com a minha obra predileta “A dança”), e de tantos outros russos, assim como de artistas de todo o mundo, cujos trabalhos encantam os visitantes que, diante deles, não veem a hora passar. E, em perfeito diálogo estético com as obras ali expostas, estão os desenhos do piso em madeiras diversas, com predominância do Pau Brasil ( nossa madeira mais nobre), levado daqui pelos portugueses que o comercializavam com a Rússia, em tempos idos. É um museu sedutor, apesar das multidões que para ali afluem, nas férias. Mas isso demonstra que o interesse pela arte é de todas as idades e de todas as culturas. Felizmente!

Entretanto, o que me leva a recordar com maior frequência o espaço russo não é somente o Hermitage, o Kremlin, o simbolismo soviético que tudo permeia, mas são elementos observados no povo, nos atos cotidianos, como: nas mulheres, uma beleza rara; nos homens, a ingestão abusiva de vodka. Lembro-me deles pelas ruas, nas noites de verão, completamente bêbados, atirando as garrafas vazias para o alto e caindo depois sobre os seus cacos. Que cenas!

Acho que o verão enlouquece as pessoas que habitam um país em que o inverno, rigorosíssimo, dura o tempo de uma gestação, ou seja, nove meses. Lembro-me também de, em São Petersburgo, presenciar o fenômeno (para nós, incomum) das “Noites brancas”. Fenômeno esse que deu título a uma novela de Dostoiévski. Recordo-me de que fiquei à janela, deslumbrada com aquela radiância interminável até alta madrugada, enquanto o sol continuava lá no alto firme e forte, mais forte que eu, que acabei adormecendo e não vi o novo dia chegar sem o intervalo da lua entre eles.

Belos lugares! Imperdíveis momentos! A vida às vezes é bela, sim!

2 comentários:

  1. Eu viajei com você por todos os lugares...que bom que temos recordações, sejam fotográficas ou no coração... beijos de saudade, Neiva.

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  2. Sim, Marize, as rememorações nos devolvem um pouco dos bons momentos pretéritos e comprovam que a vida, às vezes, é boa demais.Bjs

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