O verão, mas...


Os dias de sol são inigualáveis. Mais belos pela luminosidade. Mais esperados pela alegria neles contida. Desde as primeiras horas eles despertam em nós novos impulsos, novos desejos. E os dias se seguem nessa expectativa de que a felicidade, ainda que passageira, estará ao nosso alcance nas próximas horas, seja com um passeio programado, seja com o reencontro de pessoas queridas que em geral, nesse período, saem de seus casulos para reviver bons momentos com os amigos. E para comprovar basta conferir as imagens das praias numa profusão colorida de biquínis e no burburinho caótico e calórico dos barzinhos.

Gosto do verão. Não pelas praias. Não pelos barzinhos. Não pelas multidões. Mas por tudo que ele possibilita em meu mundo interior. Ainda que nada excepcional ocorra, a presença do céu azul promissor já alegra minhas manhãs. E penso que viver é uma dádiva divina e que nem sempre sabemos valorizar. Porque a vida é um fio do qual desconhecemos a extensão e que de repente se rompe. Apenas isso. Mas enquanto a interrupção não ocorre, quantos sonhos, quantas emoções poderemos ainda saborear e compartilhar. E isso é o que tempera o nosso existir.

Mas como nada é perfeito, existem os pernilongos. E um pernilongo é essa figurinha minúscula, voadora e inatingível pelas nossas mãos canhestras que atormenta o nosso sono, esgota a nossa paciência e, vampiricamente, penetra em nossa carne para sugar o nosso sangue, como se este fosse o licor dos deuses.

Como odeio os pernilongos! E estamos no século XXI, com todo o avanço tecnológico que as pesquisas científicas têm desenvolvido! Contudo, eles, os pernas-finas, continuam zombando de nós, cientes de que os inseticidas disponíveis no mercado mais mal produzem em nós, seres humanos, do que a eles. Por esse motivo, deixamos de usá-los e, assim, os minimonstrinhos voam leves e soltos numa coreografia festiva de dar inveja à Pina Bausch.

Não sei não, mas tenho algumas dúvidas. Será que a falta de projetos voltados ao Saneamento Básico no país não será a razão maior do recrudescimento dessa praga nos últimos anos entre nós? E será que o dinheiro não investido nessas áreas de esgoto a céu aberto, e outras, não foi parar na conta de inescrupulosos políticos? Será, então, que até nas patas dos malditos pernilongos encontraremos também as digitais do molusco de Garanhuns para nos tirar ainda mais o sono?

Volte logo, Sérgio Moro, e nos tire pelo menos o pesadelo de saber que além dos pernilongos há um outro objeto voador nos céus do Brasil, mais maléfico e em campanha, buscando acabar de vez com o que sobrou do país e dos nossos sonhos. Volte logo, Moro e acerte na mosca desta vez.

2 comentários:

  1. Ai, esses pernilongos... por isso não gosto do verão, porque no pacote vem incluído o tal de mosquito amigo... adorei seu texto...

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  2. Obrigada, querida Marize, pela leitura e pelo comentário.

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