As mudanças de rumo

Ao acordar pela manhã, recebo o jornal que me traz as notícias do que aconteceu na véspera e durante a noite. Hoje, não mais surpreendem porque a TV e a internet já se antecipam e as veiculam antes, ainda que de forma meio apressada e por isso sem muita precisão. Os bons jornais, porém, informam com maior profundidade os acontecimentos e, assim, cultivam a credibilidade dos leitores, inclusive a minha.
Tomo café e reclamo das ameaças do retorno daquele imposto perverso a CPMF. De novo! eu digo revoltada. Não seria mais justo recuperar o dinheiro público desviado pelos políticos desonestos do que assaltar ainda mais os nossos parcos rendimentos? Minha voz, contudo, só é ouvida por Baby, meu cão meio labrador, que comigo parece concordar abanando a cauda.
Em seguida abro as páginas de outro caderno, o de arte e literatura, e me deparo com o lançamento de uma nova publicação, sempre imperdível, de Walter Benjamin.  Esse moderno pensador alemão descendia de uma família de judeus e, para não cair nas mãos da Gestapo, suicidou-se em 1940 com 47 anos de idade. Que perda! Sua obra, porém, é conhecida no mundo acadêmico de todo o Ocidente e em boa parte do Oriente, e nos leva a uma reflexão séria sobre a literatura, o mundo urbano, os destinos do homem e do mundo.
Passo, então, para um caderno mais específico: de Educação. Levo um susto. My God! Os nossos garotos, alunos do Curso Fundamental com idade em torno de oito anos, não sabem ler e escrever. Não entendem o que leem e desconhecem os ensinamentos básicos de Matemática, ou seja, não conhecem as quatro operações! O que houve? fico me perguntando. Mas não era o governo anterior tão preocupado com a Educação? Não se gabava nos palanques que colocaria todos na escola e para isso daria cotas aos pobres para o ingresso nas universidades? O que houve?
 Fecho o jornal e, em silêncio, começo a mastigar lentamente o meu pão com manteiga e geleia, (geleia agora sem acento, depois da Nova Ortografia assinada pelo “culto” Presidente à época, tão “conhecedor” da labiríntica gramática da nossa Língua), pensando nesses pobres meninos. Meninos esses que amanhã, sem os conhecimentos necessários para a sobrevivência, vão comer “o pão que o diabo amassou” e que foi sadicamente preparado na cozinha do engodo pelo artesão de metáforas domésticas e futebolísticas, e servido com sabor de vitória, porque aplaudido pelos companheiros do atraso e da mentira.
Penso, então, no texto que escreverei para o jornal distribuído a tantas famílias que atentas acompanham o desempenho dos filhos na escola, o que é certo, e sinto uma pena ainda maior daqueles pais que nada sabem, porque os tempos eram outros e não conheceram os bancos escolares, mas gostariam que seus filhos tivessem um futuro melhor e acreditam que mandando esses garotos à escola, eles terão um amanhã promissor e uma profissão garantida. Mas não é bem assim.
Sabemos nós que não é essa a imagem que se delineia para eles em um futuro não muito distante. Sem conhecer a própria língua e sem decifrar os mistérios dos cálculos, não desenvolverão o raciocínio e as competências para o mundo digital e dos saberes múltiplos, que é aquele em que vivemos hoje. Não lerão Walter Benjamin nem outros filósofos, nem escritores que nos levam a descobrir a realidade em que vivemos.
Provavelmente, e com poucas exceções, serão eles trabalhadores sem nenhuma especialização ou, o que é pior, poderão entrar para o mundo da marginalidade, sem que ninguém assuma a autoria desse crime. Pobres meninos!

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