Todos os dias, ao retornar para casa, ele me
esperava farejando a porta. Era uma rotina. Ao rumor quase inaudível de meus
passos, Baby já pressentia minha presença. Ao me aproximar com a chave na mão,
ele gania de ansiedade e desespero. E com uma alegria incontida e infinita, por
me ver, saía em disparada enlouquecida pelo apartamento. Ia e voltava várias
vezes como se não nos víssemos havia muitos dias e, então, saltava para me
receber com aquele abraço que só os cães sabem oferecer àqueles a quem amam e
sabem por eles serem amados. E nós nos amávamos muito. Muito!
A qualquer
movimento, o seu olhar me seguia. Sempre foi assim. Nos últimos dias, porém,
essa atenção se intensificou. Era como se estivesse em alerta contínuo para que
eu dele não me separasse. Às vezes, eu pensava, será que ele sabe que tudo tem
um tempo, que “tudo é fugaz/ tudo se desfaz”? Que um dia um de nós deixará o
outro? E foi o que o mês de agosto nos trouxe: a separação.
Sei que a dor da perda é muito recente, por isso
muito forte, e que a passagem dos dias e as atribulações do cotidiano irão se
sobrepor a ela. Mas, enquanto isso, aquele último olhar que foi se distanciando
e que não mais captava minha imagem vai se colar à minha retina e me fazer reviver,
com dor e saudade, aquela figura ágil e alegre, cheia de vida, que em tantos
momentos, por mais de doze anos, trouxe doçura a uma convivência harmônica
mútua que dificilmente os humanos são capazes de estabelecer.
Para ele, aqui, hoje, o poema que fiz em 2014 e está
em meu livro Enguias e Estrelas.
Baby
Meu cão é meu bebê.
Ele me olha com doçura.
Uma doçura morna e vítrea
Incomum.
De fim de verão e começo de inverno.
E eu retribuo sim:
Com ternura e muito afago.
Entre meu cão e eu
A simbiose é perfeita.
Um simples sistema de trocas:
Trocamos carinhos e carências.
E o mundo em profunda quietude
Por fim adormece
Tranquilo a nossos pés.
A separação é triste e doída, sem dúvida, mas quando há amor, não há perda. Apenas separação. Fica a força dos momentos vividos nas lembranças que jamais se perderão.
ResponderExcluirObrigada, Elenice, por sua mensagem tão compreensiva e tão cheia de carinho. Penso que nas relações de afeto, há sempre o risco da perda, mas nem por isso deixaremos de nos dedicar ao nosso objeto de amor. É isso que move o mundo e que dá sentido a ele. Bjs
ResponderExcluirMinha Flor, sinto muito pela a sua perda. Mas como a Elenice disse "quando há amor não há perda apenas separação". Os momentos vivendos estarão sempre no teu coração.
ResponderExcluirBeijo grande.
Grata, Carla, muito grata mesmo. Você, uma garota ainda, mas com uma trajetória de delicadeza e sensibilidade que me surpreendeu ao se revelar quando o nosso relacionamento se limitava a uma sala de aula. As boas lembranças permanecem conosco. A sua ficará também. Beijos.
ResponderExcluirNós, que amamos nossos cachorrinhos, pensamos que ele são eternos. Ledo engano. O que nos conforta é que os amamos muito e por eles fomos amados. Receba um forte abraço, ainda que virtual, nesse momento de tristeza e dor, Neiva. Fica com Deus .
ResponderExcluirQuerida Marize, sei da sua sensibilidade pelos peludinhos, tão carinhosos! Por isso sei também da sua compreensão pela minha perda de agora. Muito obrigada. Abrs
ResponderExcluirBaby será sempre uma doce lembrança. O amor entre vocês, eterno. Um beijo, Neiva.
ResponderExcluirObrigada,Anna, minha amiga que tão bem me compreende e sempre me apoiou nos momentos difíceis.Um beijo, com muito carinho.
ResponderExcluir