Uma mãe é uma mãe...é uma mãe...



Como não me lembrar dela? Pequena e frágil. Muito frágil. De cabelos nunca tingidos, mamãe tinha o rosto emoldurado por uma auréola branca aveludada. Sorria pouco e de forma discreta. Observava o entorno com acuidade. Nada escapava ao seu olhar atento, mas jamais elevava a voz mesmo ao nos repreender. Era uma presença doce e silenciosa e isso propiciou a mim e aos meus irmãos uma infância tranquila. Havia uma ternura constante em seus atos e em seu olhar e foi isso que primeiro me revelou o que era o amor. Ela nos amou muito, muito. E nós a ela.

 Nunca a conheci com saúde. Ela sofria de megaesôfago, resultante da picada de um inseto cruel, o “barbeiro”, quando criança. E os sintomas da doença só se desenvolvem muito tempo depois. E foi o que aconteceu. Eles surgiram logo após o meu nascimento, quando, então, não mais pôde ingerir alimentos sólidos. Os tratamentos e as cirurgias se mostraram ineficazes. Uma doença incurável à época, nos disseram os médicos. Hoje, não sei.

E por se alimentar apenas de líquidos, manteve sempre o corpinho esguio de menina; a pele, porém, se ressentiu e as rugas pouco a pouco foram redesenhando seu rosto, que envelheceu e que agora relembramos pelas fotos. Mas mamãe não reclamava, enfrentava a falta de saúde com resignação e coragem, dizendo sempre aos médicos: “Eu preciso viver para educar minha filha”. Eu era a filha caçula e, por isso, a sua preocupação maior.

O seu desejo se tornou realidade e mamãe viveu por muitos anos mais, e não só nos educou a todos como conheceu também todos os netos.

Quando se aproxima o mês de maio e os shoppings se enfeitam buscando despertar nos filhos quase que uma obrigação de presentear as mães nessa data, e para vender mais, é claro, eu me lembro de minha mãe e de sua lógica ao dizer” Eu não quero presente nesse dia, eu quero vocês presentes o ano inteiro”.

Mas será que não é com isso mesmo que todas as mães sonham? E será mesmo que os filhos não sabem disso?


12 comentários:

  1. Neiva, obrigado pela comunicação. Li e gostei do seu texto. Aliás, é sempre assim com relação a tudo que você escreve. Muito bom. Abraço, jb

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    1. Obrigada, Joaquim. Suas palavras, sempre gentis, desde a publicação de A escritura inquieta, foram um estímulo edificante para mim. Bjs

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    1. Sim, Marize. Mamãe nos deixou há quase três décadas, mas a imagem que permanece é de uma ternura infinita. E isso é bom demais.

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  4. Sentimentos e emoções sempre presentes por toda a vida. Um desejo, uma vontade a que se faz jus pelo legado da MÃE e que dá os seus frutos através das gerações que lhe sucedem. Aproveito para desejar um feliz dia da mãe Neiva que se faz presente em toda a sua existência. Beijos

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    1. Grata por seu estímulo constante no decorrer dos longos anos em que nossos caminhos se cruzaram, lá atrás, no início dos anos 80, numa empresa de engenharia onde aprendi muito e fiz ótimas amizades, entre elas a sua, Graça, e do José Augusto, claro.

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  5. Neiva, parabéns à mãe e à filha! Bela lembrança...

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    1. A memória, Anna, é uma dádiva preciosa com que a vida em seu percurso nos premiou. O ver de novo o que nos fez feliz é muito gratificante.
      Receber seus comentários também é muito gratificante.Bjs

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  6. Um texto que emana amor. Parabéns Neiva.

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    1. Para mim, é uma doce lembrança a imagem de minha mãe tão frágil fisicamente e tão forte em seus princípios, mas sempre transmitidos com leveza e ternura. Fui privilegiada, eu sei. Beijos e muito obrigada, Elenice.

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