Como não me lembrar dela? Pequena e frágil. Muito frágil. De
cabelos nunca tingidos, mamãe tinha o rosto emoldurado por uma auréola branca
aveludada. Sorria pouco e de forma discreta. Observava o entorno com acuidade. Nada
escapava ao seu olhar atento, mas jamais elevava a voz mesmo ao nos repreender.
Era uma presença doce e silenciosa e isso propiciou a mim e aos meus irmãos uma
infância tranquila. Havia uma ternura constante em seus atos e em seu olhar e
foi isso que primeiro me revelou o que era o amor. Ela nos amou muito, muito. E
nós a ela.
Nunca a conheci com
saúde. Ela sofria de megaesôfago, resultante da picada de um inseto cruel, o
“barbeiro”, quando criança. E os sintomas da doença só se desenvolvem muito tempo
depois. E foi o que aconteceu. Eles surgiram logo após o meu nascimento, quando,
então, não mais pôde ingerir alimentos sólidos. Os tratamentos e as cirurgias
se mostraram ineficazes. Uma doença incurável à época, nos disseram os médicos.
Hoje, não sei.
E por se alimentar apenas de líquidos, manteve sempre o
corpinho esguio de menina; a pele, porém, se ressentiu e as rugas pouco a pouco
foram redesenhando seu rosto, que envelheceu e que agora relembramos pelas
fotos. Mas mamãe não reclamava, enfrentava a falta de saúde com resignação e
coragem, dizendo sempre aos médicos: “Eu preciso viver para educar minha
filha”. Eu era a filha caçula e, por isso, a sua preocupação maior.
O seu desejo se tornou realidade e mamãe viveu por muitos
anos mais, e não só nos educou a todos como conheceu também todos os netos.
Quando se aproxima o mês de maio e os shoppings se enfeitam
buscando despertar nos filhos quase que uma obrigação de presentear as mães
nessa data, e para vender mais, é claro, eu me lembro de minha mãe e de sua
lógica ao dizer” Eu não quero presente nesse dia, eu quero vocês presentes o
ano inteiro”.
Mas será que não é com isso mesmo que todas as mães sonham?
E será mesmo que os filhos não sabem disso?
Neiva, obrigado pela comunicação. Li e gostei do seu texto. Aliás, é sempre assim com relação a tudo que você escreve. Muito bom. Abraço, jb
ResponderExcluirObrigada, Joaquim. Suas palavras, sempre gentis, desde a publicação de A escritura inquieta, foram um estímulo edificante para mim. Bjs
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ResponderExcluirQue imagem linda de sua mãe...
ResponderExcluirSim, Marize. Mamãe nos deixou há quase três décadas, mas a imagem que permanece é de uma ternura infinita. E isso é bom demais.
ExcluirSentimentos e emoções sempre presentes por toda a vida. Um desejo, uma vontade a que se faz jus pelo legado da MÃE e que dá os seus frutos através das gerações que lhe sucedem. Aproveito para desejar um feliz dia da mãe Neiva que se faz presente em toda a sua existência. Beijos
ResponderExcluirGrata por seu estímulo constante no decorrer dos longos anos em que nossos caminhos se cruzaram, lá atrás, no início dos anos 80, numa empresa de engenharia onde aprendi muito e fiz ótimas amizades, entre elas a sua, Graça, e do José Augusto, claro.
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ResponderExcluirNeiva, parabéns à mãe e à filha! Bela lembrança...
ResponderExcluirA memória, Anna, é uma dádiva preciosa com que a vida em seu percurso nos premiou. O ver de novo o que nos fez feliz é muito gratificante.
ExcluirReceber seus comentários também é muito gratificante.Bjs
Um texto que emana amor. Parabéns Neiva.
ResponderExcluirPara mim, é uma doce lembrança a imagem de minha mãe tão frágil fisicamente e tão forte em seus princípios, mas sempre transmitidos com leveza e ternura. Fui privilegiada, eu sei. Beijos e muito obrigada, Elenice.
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