O espanto do menino




Com o olhar cheio de espanto
E o dedinho apontando pro céu
O surpreso menino gritou:
Olha lá, mamãe!
Olha lá!
A lua tá faltando um pedaço!

E como explicar a ele que
Nesta nossa esfera tão azul
Nem tudo se mostra global.
Às vezes, só se revelam partes do inteiro.
Às vezes, é o inteiro que se esconde nas partes.

Nada é translúcido. Nada é diáfano.
Há sempre um vazio de vínculos
Na aparente concretude da imagem.

Mas se assim não fosse
A lua não teria seus mágicos mistérios
Nem nós ouviríamos jamais
Do garotinho, aquele delicioso grito 
Diante da pequenez da lua
naquela imensidão do céu.

6 comentários:

  1. Parabéns, esse pequeno poema nos tira um pouco da dura realidade e deixa emanar a esperança que flui das metáforas poéticas.

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    1. Obrigada, querida Elenice. Você é sempre gentil e elegante na leitura de meus textos. Que nossa amizade dure...dure...
      O meu abraço.

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  2. O menininho intuitivamente descobriu o que disse Hamlet: "Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia". Assim como nossa atual aparente realidade esconde coisas do arco da velha. A gente até as pressente...por isso é muito bom se fiar na intuição. BJSSS!

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  3. Bem lembradas as palavras do personagem de Shakespeare, Mara. Muitas vezes são elas, as palavras, que em prosa ou poesia nos levam a ver melhor o mundo que nos cerca. Beijos.

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  4. Nada como a voz de uma criança, ao descobrir o mundo, provocar um desafio à reflexão e, que em qualquer tempo, poderá ter (re)leitura diferente, até de cunho politico. O espanto do menino é um colírio para os nossos olhos.Bjs.

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    1. Gostei da sua leitura das entrelinhas.Isso prova que não é preciso estudar Semiótica por anos e anos; basta ter sensibilidade e os olhos bem abertos. Amei! Bjs

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