Sensibilidade seletiva


Muito me deveria comover nesta semana as manifestações do governo e da mídia ao resgatar o aniversário de 50 anos em que a ditadura militar foi implantada no Brasil. Histórias e mais histórias dos que perderam familiares e dos que sofreram tortura naquelas duas décadas denominadas “anos de chumbo” e que marcaram negativamente o país, pois ditadura é ditadura e não se pode elogiá-las. Mas não me comovi.

Todos os jornais estamparam nas primeiras páginas cenas de violência dos militares para rememorar as ações negativas praticadas por eles “contra a população”, dizíamos matutinos. Cadernos especiais com críticas ferozes aos que “aplicaram o golpe, acabando com a democracia vigente”, foram acrescentados à mídia impressa, enquanto a tela da Globo e de outras emissoras que a seguiram em sua programação de imagens conhecidas e repetidas dos militares empunhando suas armas nas ruas, numa guerra por maior audiência. Mas não me comovi.

E como não poderia deixar de acontecer, a Presidente Dilma veio à TV, aproveitando o momento (imperdível, como político-eleitoreiro), para se solidarizar com aqueles que como ela foram “vítimas inocentes” daquele período tão violento! Chorosa, sensível, com a voz titubeante, ela mostrou sua fragilidade humana aos espectadores que, certamente, como o previamente calculado, se comoveram. Mas não me comovi.

E não me comovi porque conheço a História. Sei muito bem o que levou os generais à tomada do poder. Sei sim do perigo que rondava o país naquele período. E só para recordar, em 1959, Fidel Castro derrubara uma ditadura em Cuba, o que lhe rendeu os aplausos de todos os países democráticos, mas foi uma euforia efêmera porque logo após, ele e seus aliados, entre eles o famoso Che Guevara, hoje lembrado nas camisetas de nossos ingênuos jovens que se dizem de esquerda, sem saber exatamente o que isso significa, impuseram uma nova ditadura àquele pobre povo. E ela perdura até hoje. E isso me comove, sim.

A mim comove toda vez que penso em um médico cubano que é obrigado a deixar sua casa, sua família, e trabalhar em regime de escravidão em outro país, sem voz para reclamar os seus direitos como ser humano. Mas isso não sensibiliza Da. Dilma.
A mim comove acompanhar o massacre do povo venezuelano pelas forças do ditador Maduro, porque é um ditador como fora Hugo Chaves, ambos amigos do peito do governo brasileiro, sem uma voz que aqui os defenda. Mas isso não sensibiliza Da. Dilma. Sua sensibilidade é seletiva!

E não fosse a reação dos militares em 1964, diante dos movimentos que agitavam o país, estimulados pelos comunistas que levavam a população às ruas, com greves, passeatas e gritos de guerra de todo tipo, similar ao que acontece hoje, tudo indica, estaríamos nós também sob uma rígida ditadura de esquerda, comendo o pão que o diabo rejeitou. E isso me comove, sim.

Mas ver e ouvir a presidente Dilma fingir que lutou pela democracia e que desejava a liberdade do país, assim como seus “companheiros de luta”, ressalte-se: luta armada, assaltos a bancos, ataque à bomba, resultando na morte de inocentes mesmo. Isso não me comove. Isso me deixa indignada.

Indignada porque sou obrigada a acompanhar a farsa de uma falsa heroína que repete, a cada instante de seus discursos, a palavra democracia para ocultar seus desejos mais íntimos, o que não é mistério para ninguém: que é ver seu sonho realizado, ou seja, transformar o país em um sistema socialista e, portanto, ditatorial, porque onde o socialismo aporta, nele se aninha o autoritarismo. Basta observar os países queridinhos da presidente Dilma, como Cuba, Venezuela, Irã, Coreia do Norte, China e outros países da África cujos povos conhecem todas as agruras de viver sob um regime que reprime e mata os adversários políticos e explora sua população, obrigando-a a viver em regime de extrema pobreza, enquanto os dirigentes gozam das maiores regalias e do luxo exagerado que esse excesso de poder propicia.

Não, não me comovo com as homenagens às vítimas de 64, porque sei que se isso não ocorresse, seríamos nós, hoje, as vítimas maiores desse sistema desumano que viceja como praga na América Latina.

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