Os 100 anos de Tomie Ohtake


Cem anos. Um século de vida. Privilégio de poucos, mas um privilégio maior ainda se esse alguém continua ativo, participando intensamente da vida familiar e social e, ainda mais, trabalhando criativamente em sua arte de representar o mundo em suas telas e esculturas. Esculturas que pontuam a cidade de São Paulo, e outras mais, assinadas por essa genial artista plástica de origem nipônica, Tomie Ohtake.
As homenagens a ela começaram neste mês de agosto em São Paulo com a exposição “Influxos das Formas” no Instituto de estilo pós-moderno que leva seu nome e foi projetado por seu filho, o arquiteto Ruy Ohtake.
Nessa mostra, que ficará aberta ao público até novembro, quando a artista completará cem anos de vida, estão disponíveis obras que revelam desde o processo iniciático da autora quando ainda transitava pela temática figurativa e que, depois, influenciada pela pintura do americano de origem russa, Mark Rothko, enveredou pelos caminhos da pintura abstrata e, então, criou o traço, a cor e a forma que lhe deram notoriedade e a diferenciaram dos demais pintores japoneses com quem se reunia para desenvolver a arte pictórica.
Sua trajetória é instigante por ter chegado ao Brasil por volta de 1936, para rever o irmão que aqui residia, exatamente quando o Japão se uniu à Alemanha de Hitler, durante a 2ª. Guerra Mundial, o que a impediu de retornar a seu país e a levou ao casamento com o engenheiro Ushio Ohtake. Desse relacionamento, sobrevieram Ruy, arquiteto, e Ricardo, arquiteto e designer gráfico. Sua casa, no bairro do Campo Belo, onde veio a morar posteriormente e reside até hoje, transformou-se em atelier, em um espaço onde cria e desenvolve sua arte com uma regularidade incomum e um rigor metodológico que a mantém fiel às formas arredondadas e às cores que marcaram seu estilo. Segundo Tomie, a reta “não é da natureza humana”, por isso a preferência pelos círculos e sinuosidades. Sinuosidades estas que se desdobram e versáteis se repetem, mas sempre diferentes.
Entre as cores de suas obras há uma predominância do vermelho e do amarelo. Esta cor, o amarelo, segundo ela, foi a que a encantou quando chegou em nosso país. A luminiscência do amarelo vibrante que vivificava intensamente todos os espaços, diferente do que vivenciara no Japão, despertou na recém-chegada a paixão pela cor solar. Daí a registrá-la em suas telas e esculturas foi um gesto resultante de uma pulsão interior que não se diluiu com o passar do tempo.
As telas de grandes dimensões e as gravuras de Tomie Ohtake revelam um estilo inconfundível e estão presentes as primeiras, em geral, em espaços privilegiados pelo seu valor altíssimo, tanto artístico quanto mercadológico. As gravuras, contudo, embora também se mostrem peças de arte para poucos, não atingem as cifras de tão grande vulto como as telas e podem ser encontradas nas paredes das residências dos que admiram a sensível e belíssima arte daquela jovem que há quase cem anos aportou neste país tropical, se encantou por ele e, de longa data, vem encantando os que aqui têm olhos para as cores quentes e as formas abstratas no estilo da artista cuja mente e cujo traço não viram o tempo passar.

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