A dependência nefasta


A mente humana é plena de labirintos e armadilhas. Acreditemos ou não, estamos cotidianamente armazenando informações. Tudo que vemos, tudo que ouvimos e tudo que sentimos, é registrado em nosso cérebro como se gavetas ele tivesse e nelas ficassem guardados os nossos “segredos” intelectuais, profissionais e afetivos.
Contudo, o mundo mudou. E mudou sensivelmente, a partir dos mecanismos tecnológicos desenvolvidos no século XX por cérebros privilegiados. Por essa razão, aos olhos dos jovens, parece até desnecessário e obsoleto esse registro pessoal que exige tanto esforço e tanto estudo. E pela ótica de muitos, jovens e até não jovens, passamos a viver em um mundo tecnológico e não mais nos preocupamos em memorizar tudo que os nossos sentidos captaram para desenvolvermos as nossas competências e, consequentemente, construirmos a nossa história de vida, porque os equipamentos retêm, segundo eles, todas as informações necessárias. É só acessá-las. Basta um clic.
Quem convive, porém, com a juventude em sala de aula, muitas vezes se depara com essa visão distorcida, equivocada mesmo, que os alunos manifestam diante de uma orientação para um esforço maior de concentração e retenção dos ensinamentos ministrados. – É só procurar no Google, depois, professora, dizem eles.
Essa postura revela, porém, duas coisas: uma, que eles estão certos porque os sites de busca nos levam à informação de que precisamos, no instante mesmo do acesso, e sem esforço mental nenhum; a outra é que eles estão errados porque, embora hoje o saber já se encontre fora do cérebro humano, concentrado em máquinas denominadas inteligentes e, por isso, capazes de reproduzir os saberes, estas máquinas se limitam a obedecer a comandos humanos e, se eles estiverem sem elas... Aí a situação fica complicada. Há alunos de cursos de Engenharia que sem as HPs, aquelas conhecidas e competentes calculadoras, já tropeçam nas quatro operações básicas. O que não me parece um avanço para o ser humano, e sim um retrocesso.
O difícil é fazer com que muitos dos apaixonados pelos “googles”, da internet, compreendam que o homem não pode ficar apenas à mercê da tecnologia, por mais eficiente e portátil que sejam os equipamentos. A ajuda tecnológica deverá, sim, ser um complemento (indispensável hoje), para auxiliá-lo em suas pesquisas e resolver problemas com a rapidez que a modernidade exige, mas cabe a ele abrir as gavetas do cérebro, e estimular cada vez mais os seus neurônios, para apreender não só o conhecimento e a complexidade do mundo, mas desenvolver também a sua capacidade cognitiva, fazendo assim jus a sua classificação de homo sapiens.
Ao agir dessa forma, ele se tornará, então, um ser apto a buscar soluções criativas para um planeta cada vez mais comprometido pela incompetência, pelo descaso e pela alienação dos homens que preferem e se contentam em viver sem pensar.

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