Um dia especial


Amanhã nos lares e nos restaurantes a família reunida comemora mais uma vez um dia considerado especial: o “Dia das Mães”. O comércio aguarda com ansiedade por ser esta data aquela em que o faturamento mais se eleva depois do Natal. E assim todos querem demonstrar por ela, nesse dia, seu carinho, sua gratidão. E as mensagens publicitárias se esmeram na produção de slogans que quase sempre resultam em embalagens vistosas ou caixinhas delicadas nas sacolas dos clientes que circulam pelos shoppings das cidades.

Certo? Errado? Não sei. Não sei se o carinho por alguém se mede pelas embalagens de grife ou por uma “lembrancinha” mais modesta, a depender da conta bancária de cada um. Acho eu que o amor por alguém não é sentimento comercializável. Menos ainda em relação às mães. Aprendi que amor não se compra e não se vende, se conquista. E se conquista ao longo do tempo. Diferente do amor à primeira vista, tão exaltado na literatura romântica, mas que nada mais é que uma atração física repentina e, muitas vezes, efêmera.

É o amor, me parece, um sentimento similar à amizade. É tão semelhante que, às vezes, se confundem e imperceptivelmente um pode se transformar no outro. Acontece. É quando uma relação afetiva amigável toma um rumo inesperado e surpreende até mesmo aos que nela estão envolvidos. Acontece. É também quando o amor envelhece e a união se mantém por outras razões distintas daquela que a motivou. É quando, pelo hábito, um necessita do outro e os traços de união, percebe-se, são apenas os ritos da amizade, nada mais.

Assim, o sentimento que une mãe e filho pertence a uma categoria singular. É difícil de explicar. Há uma reciprocidade inata, latente, visceral. É uma extensão corpórea da mãe para o feto/filho e, no campo do afeto, única. Mas na vida tudo é mutante. Aquela ligação inconsútil, inicial, aos poucos se esgarça e mais à frente pouco a pouco se rompe. Sem, contudo, ser esquecida totalmente. Mas o filho, já distante, sente menos essa separação. O que é necessário e benéfico para que seu caminho seja vivido com plenitude. Para ela, porém, basta que, de vez em quando, seu rosto se volte para trás e com um sorriso lhe faça um aceno com carinho.

Talvez, por isso, o “Dia das Mães” tenha sido criado: para que todos nós possamos pelo menos por um pouco de tempo, como Orfeu em relação à Eurídice, olhar para trás, para aquilo que foi um dia o nosso maior objeto de amor, mesmo ciente de que logo após o perderemos, de novo, na rotina cruel do dia a dia de cada um.


2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Sobre a conexão de afeto entre mãe e filho e o dia especial em que isso se"confirma". Escrito com um distanciamento quase amargo, explicitando a realidade de como esse amor é mais memória do que presente na transitoriedade da vida.
    Real acima de tudo, sem fantasia ou adorno... Olhar de uma mãe depois de umas sete décadas...técnica apurada e depurada de pieguice!

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