O Vendedor de Minhocas

Há alguns meses, em sala de aula, propus aos meus alunos de Comunicação redigir um texto sobre um animal de estimação. O resultado foi ótimo. Alguns se envolveram e produziram textos muito interessantes. Um deles, denominado “A minha gata Amarela”, me conquistou e eu o coloquei aqui em meu blog. Na última semana, após a leitura de um texto cuja temática eram os sonhos, pedi que elaborassem uma crônica, ou algo assim, sobre a angústia, mas que contivesse leveza. Um aluno, Guili, do curso de Publicidade nos surpreendeu revelando a sua competência ficcional com o texto a seguir. E ele vale a leitura.


O Vendedor de Minhocas


Quem será o próximo a entrar neste ônibus que passa veloz... e cheio de pernas? Ao meu lado, um homem de idade, com a postura curvada, mas ainda assim alto. Sua aparência não era das melhores e a camisa branca extremamente larga o deixava ainda mais peculiar. Segurava firmemente uma bolsa térmica amarelada como se ela contivesse uma vida inteira em seu interior. E nem sequer balançava nas curvas, enraizado que estava entre o degrau e o assento preferencial.

Em meus pensamentos não parava de fantasiar sobre o que tinha dentro da bolsa, podia ter apenas uma carne para um churrasco ou até mesmo um coração que acabara de adquirir no mercado negro. Mas, sem dúvida a ideia mais plausível de todas era a que dentro da bolsa havia minhocas. Sim, em pé, ao meu lado, havia um vendedor de minhocas. Entretanto, como uma resposta abre espaço para outras perguntas quis saber para quem iria vendê-las e, além disso, quem usa minhocas em plena cidade de São Paulo? Minha mente explodiu de hipóteses...

De repente, o ônibus para e o homem desce certamente rumo a seu próximo cliente, feito um mascate. Minha angústia não foi ter deixado de perguntar pelo conteúdo da sacola, mas sim saber que o Vendedor de Minhocas sequer reparou que ele fora o tema de minha viagem.

Guili Waitzberg

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