Se toda ação provoca uma reação, como nos ensinou a 3ª. Lei
de Newton, “o geômetra divino”, segundo o poeta William Blake, essa reação no
nosso pequeno mundo pode ser aguardada como positiva ou negativa. E ninguém
duvida disso. E é essa a razão por que tememos tanto expor uma ideia ou algo
novo, uma estranhíssima criação artística, por exemplo, pelo medo da crítica
severa de alguns que com essa novidade não se identificam. Mas sem ela, sem
essa atitude lúdica ou, às vezes, de ousadia, viveríamos na mesmice.
A verdadeira criação artística, entretanto, não é, me
parece, apenas obra do acaso e sim um dom que se adquire com muito estudo, boas
influências e incansável persistência, além é claro de uma boa dose do que
acima se denominou ousadia. E quanto mais leio sobre a trajetória daqueles que
se sobressaíram, seja na ciência ou na arte, mais me convenço disso.
Ainda ontem, enquanto aguardava ser atendida na sala de
espera de um consultório, aproveitei para rever/reler uma obra sobre a arte
fotográfica do mestre insuperável na captação de imagens Henri Cartier-Bresson.
Por ser uma edição “de poche” cabia perfeitamente em minha bolsa. E para esses
momentos, que às vezes se alongam, gosto de carregar comigo livros assim. E o
que esse pequeno livro de Clément Chéroux não promete em suas dimensões, nos
entrega em seu conteúdo.
As fotos mais famosas do mito da fotografia ali estão e também
os relatos do momento em que foram flagradas. “Obra de gênio” pensamos, e não
há erro nisso porque a qualidade visual e os seus detalhes o confirmam. Mas se
lemos atentamente a parte introdutória, isto é, o capítulo que discorre sobre
sua formação, imediatamente compreendemos que a genialidade de Bresson é real;
contudo, ela se fez também no contato à época com uma arte muito viva na França.
Seu encantamento pelos registros do mundo se deu primeiro com a pintura e o
convívio com surrealistas famosos, com o gosto pela geometria, e tudo isso
acabou por se imortalizar em suas fotos depois. E estas, hoje, são também
influências importantíssimas para os que se aventuram na carreira fotográfica.
Contudo, não é bem sobre isto, sobre a grande arte e seus
expoentes, que pretendia comentar no início de minha crônica, e menos ainda de
efetuar comparações entre eles e as minhas impertinências poético-literárias, mas
sobre a questão da ação e reação, fenômenos interligados que acima mencionei, e
que me vieram à mente pela consequência da publicação de dois haikais (seriam
eles haikais mesmo?) em meu blog.
Um amiga (de verdade e não apenas de facebook), me enviou um
e-mail comentando essa minha brincadeira poética, complementando-a com um outro
haikai também. Essa reação de Giselda (esse é seu nome: Giselda Bortoletto) me
trouxe uma doce alegria porque essa amiga é uma professora, como eu e da mesma
área, e competentíssima em sua carreira. Seu texto é sedutor demais e ela só
não fez sucesso como escritora porque não optou pela publicação do que escreveu, pois quem lê, escreve, e esse material certamente se encontra muito bem escondido
em seus guardados.
Eu a conheci na Fundação Carlos Chagas, quando por alguns
anos ali desenvolvemos trabalhos de análise de textos de concursos vestibulares
e outros, com maior complexidade ainda, e essa amizade ultrapassou as barreiras
de espaço e tempo, ficando seu nome e sua imagem em minha mente, envolvidos por
uma auréola de carinho, assim como de Anna, de Marize e alguns outros.
Mas vamos ao bem-humorado haikai de Giselda, objeto desta
minha crônica:
“Dias escorrem
Fevereiro chove e abrasa.
Neiva escreve pra nós.”
(Giselda Bortoletto)
Obrigada, Giselda, por ler meus textos e por eles também se
deixar envolver, contribuindo ainda para a sua dispersão.