Livros e leituras


Gosto de ler! Adoro ler! Dizem alguns.
Não, não gosto de ler. Ler me dá sono. Dizem outros.

Os gostos diferem. Eu sei. E todos sabemos que ler é um hábito. E os jovens, hoje, não praticam muito a leitura como atividade lúdica. Preferem os games que contêm narrativas mais instigantes porque, ali, em sua estrutura interativa, eles se tornam os agentes da ação, podendo escolher esta ou aquela opção para ganhar a batalha, para vencer o inimigo.

Mas podem mudar, penso eu. Podem aos poucos começar a se interessar também pelas histórias que irrompem das palavras coladas às páginas e a vivenciar os conflitos dos personagens como se estivessem diante de uma tela de cinema ou do computador.

Por essa razão, a cada início de semestre, começo a relacionar as obras lidas por mim no período anterior, e também nas férias, tentando observar se entre essas leituras algumas delas possam despertar o interesse desses meninos de dedos ágeis e apaixonados apenas, nos parece, pelos resultados que as teclas de seus equipamentos tecnológicos de última geração possam lhes trazer.

Assim, vou buscando atraí-los e resgatá-los para o espaço literário por meio da temática, como em Bonsai, de Alejandro Zambra, em cujo relacionamento atual e afetivo de dois jovens personagens eles se veem; ou pela estrutura criativa, como em Diário de um ano ruim, de J. M. Coetzee, em que a página é dividida em três partes, contendo um curto ensaio e dois diferentes narradores, ou mesmo Intermitências da morte, de José Saramago, cuja ironia perpassa toda a narrativa em que a morte, magoada por não ser amada pelos homens, entra em greve e não mata mais ninguém.

Sempre busco um nível de dificuldades que considero adequado aos recém- universitários para que a intelecção seja possível e a leitura vá se tornando um momento de prazer e não de tortura. Para que os não habituados a ela comecem a descobrir que as histórias narradas por bons autores abrem a nossa mente e os nossos olhos para universos que, embora pareçam tão distantes, às vezes, se tornam muito próximos de nós. E nos encantam. E, assim, o primeiro acordo de paz entre autor e leitor será assinado sem mágoas e, acredito mesmo, que vários outros a esse se seguirão.

Otimista? Nem tanto. Experiência, eu diria. É que a discussão das obras escolhidas no espaço acadêmico acaba por gerar dúvidas, comentários e discussões entre os colegas, desperta a curiosidade de outros não tão interessados e termina por contagiá-los. E assim nasce mais um leitor. E isso não é maravilhoso?

Na próxima segunda-feira (26/05/14), estarei autografando meu novo livro, agora de poemas, Enguias e estrelas, e ficarei muito feliz com a presença dos familiares e amigos, os mais queridos, e em especial dos alunos que vierem comemorar comigo esse momento literário tão bom. Sei que eles, os alunos, virão. E para alguns será, talvez, a primeira experiência em eventos como esse. Enquanto que para mim, sem dúvida,fará parte de mais um capítulo interessante da minha história acadêmica e de vida porque, em nossa trajetória, o mais importante é saber que, ao deixar pegadas, outros mais jovens poderão refazer o percurso e chegar bem mais longe que nós. É o meu desejo. É a minha expectativa.