Uma travessia difícil


Um olhar retrospectivo nos leva a 2002 quando a população brasileira foi vítima de um discurso populista e elegeu o PT, à época conhecido como o partido dos puros, para higienizar a área política que, segundo seus integrantes, e à frente o ex-Presidente Lula, era composta por corruptos e picaretas.

Os discursos inflamados ou incendiários de palanque, marca registrada desse partido, apontavam o candidato de esquerda Lula (que depois se negou ser de esquerda para angariar mais votos naquele momento) como o “salvador da Pátria”, aquele que tinha por objetivo acabar com a miséria deste país, elevá-lo à categoria de país de primeiro mundo e extinguir, segundo ele, o nosso complexo de “vira-latas” diante do contexto global.

Lula venceu as eleições e recebeu do governo Fernando Henrique Cardoso um país estruturado, apoiado na implantação do Plano Real, o que colocou o Brasil entre os emergentes como o mais competitivo. Lula se aproveitou de tudo isso e passou a negar os feitos de seu antecessor, alegando ter recebido dele uma “herança maldita”, quando na verdade havia recebido um presente divino. Ciente disso, e dos frutos que lhe traria essa “herança”, prometia ao povo o “espetáculo do crescimento” que ELE, Lula, iria proporcionar aos brasileiros.

E o crescimento ocorreu. E todos se surpreenderam com a rapidez dessa melhora e Lula passou aos olhos do povo de sindicalista, ignorante e boçal que sempre fora, ao grande estadista do Brasil, como passou a ser reconhecido aqui e lá fora, onde tinha escritórios pagos com o nosso dinheiro para promover os seus “grandes feitos”.

O tempo caminhou e mudanças surgiram. Surgiu o Mensalão (e Joaquim Barbosa) e os petistas foram desmascarados e presos como os maiores corruptos que o país já tivera. Surgiu o Petrolão (e Sérgio Moro) já no governo Dilma, a pupila de Lula, que como seu chefe também nunca soube de nada. Este, o Petrolão, é tão gigantesco na roubalheira, que transformou os integrantes do Mensalão em meros ladrões de galinhas.

Afastada pelo impeachment, por 180 dias, pelas pedaladas fiscais, mas na verdade, por muito mais, inclusive pelo rombo de 170,5 BILHÕES de reais nas contas públicas, D.Dilma põe a boca no mundo, aqui e lá fora, que é vítima de um “golpe” de Estado, enquanto pode viajar pelo país afora e até para fora dele com aviões a seu dispor, assessores etc. etc. e tudo pago com o nosso dinheiro, com o dinheiro de um país que ela deixou à míngua, para gritar que é vítima de um “golpe”. Pode? Isso é golpe? Para os petistas é.

Enquanto isso, o Presidente em exercício, Michel Temer, está comendo o pão que o diabo amassou, buscando os melhores Ministros, entre eles: Meirelles, Serra (e um que não deu certo, Romero Jucá), com os cofres vazios, as dívidas astronômicas e a urgência em pôr a casa em ordem para que o país volte a ter credibilidade e atraia investimentos estrangeiros para a casa não ruir de vez.

Não bastassem esses problemas gigantescos, Temer ainda tem de enfrentar artistas e “intelectuais” de esquerda em suas manifestações inapropriadas, assim como os demais petistas e seus aliados, mercenários e/ou fanáticos que, sem escrúpulos e violentos, também marca reconhecida desse partido, o chamam de “golpista” e saem às ruas atrapalhando o trânsito, colocando fogo em pneus nas ruas e estradas, e ameaçando até invadir sua residência em São Paulo, o que só não ocorreu graças à intervenção da polícia que tomou providências enérgicas como a intervenção da área de entorno.

Esses fatos são mais que suficientes para que se tenha a dimensão do problema que é de todos, e não só do Presidente em exercício Michel Temer, para dar um novo rumo ao país, como dar emprego ou reconduzir a ele àqueles que estão fora do mercado de trabalho, sanar as contas públicas e dar maior estabilidade econômica a um país em ruínas. E, talvez o mais problemático deles: controlar essa turba que luta em sentido contrário, não se importando com as consequências de seus atos.

Afinal, o que querem eles, realmente? São brasileiros mesmo ou estão a serviço de organizações externas que desejam dominar o país? Ou seria mesmo aquilo que é recorrente na voz do povo: “O que eles não querem mesmo é perder a boquinha”.

A vez do Juca


Preciso de um poema, hoje, para me auxiliar a descrever um momento difícil. Esse poema tem como título “Horário do fim”. É de Mia Couto, poeta e escritor de Moçambique, e sua diagramação iconicamente fica no limite da página. Por que será?

morre-se nada
quando chega a vez

é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos

morre-se tudo
quando não é o justo momento

e não é nunca
esse momento

Não sei como ele surgiu em minha tela do computador, hoje, quando procurava, na verdade, um outro texto. Uma outra coisa que me distanciasse do que naquele momento muito me entristecia. São os acasos. Eles existem. Eles existem, sim, embora sem explicações lógicas. E o título do poema anunciava o que eu não queria vivenciar de novo: a perda de mais um dos nossos bichinhos.

O poema não iria amenizar o que eu sentia diante da previsível e já anunciada perda tão próxima. O que me levou à sua leitura foi a coincidência. O momento de Juca estava já na nossa mente e naquela sensação de vazio tão vivenciada por nós quando eles se vão. A minha primeira reação à notícia foi rever as fotos de quando ele chegou. Tão pequeno, sujo e carente, mas com olhos tão meigos que logo nos conquistou a todos.

Não, eu não iria olhar as fotos. Não agora. Aquele nosso menino, ciumento, de pelo caramelo, longo e macio, se desenvolveu, transformou-se num belo cão e ganhou o carinho de todos. Foi muito amado. Foi também um atleta memorável. Participou de concursos de Agility, desfilou com figurinos para os Pets, e eu o via com paixão. Que gracinha!

Juca encantava também pela forte personalidade. Amigos eram a sua família, ou melhor, os seus “pais”; os outros, inimigos. Para eles, rosnava. Para os “pais”, era só carinho. Quantas alegrias, Juca! E quando à noite, já adormecidos, ele pulava na cama e se jogava sobre nós, “pais ou avós”, como se travesseiros fôssemos para ele. Não dá para esquecer!

Mas, agora, tudo isso ficou para trás.Os problemas da coluna surgiram, e o garoto que ia feliz pelas ruas deixou, aos poucos, de andar. Esses problemas começaram a atormentá-lo e os medicamentos passaram a fazer parte da rotina. A paralisia das patas, as sessões contínuas de acupuntura e fisioterapia, também. Os carrinhos especiais para levá-lo aos passeios foram necessários, e ele continuou acompanhando o mundo no entorno, mas não mais pelas próprias patas. Foram tempos difíceis, cada vez mais difíceis.

Agora, chegou o momento. É preciso, apesar da tristeza, cortar esse fio que o liga à vida, mas o liberta para um sono bom, sem medos e sem dores. E nós, que ficamos, estaremos ainda por muito tempo sentindo a sua ausência, com saudade, e com o mesmo carinho, achando também, como Mia Couto, que este momento nunca é justo, porque ele nunca deveria existir.

Mas ele existe. Oh! Sim. Ele existe. E como faz sofrer!

Um dia especial


Amanhã nos lares e nos restaurantes a família reunida comemora mais uma vez um dia considerado especial: o “Dia das Mães”. O comércio aguarda com ansiedade por ser esta data aquela em que o faturamento mais se eleva depois do Natal. E assim todos querem demonstrar por ela, nesse dia, seu carinho, sua gratidão. E as mensagens publicitárias se esmeram na produção de slogans que quase sempre resultam em embalagens vistosas ou caixinhas delicadas nas sacolas dos clientes que circulam pelos shoppings das cidades.

Certo? Errado? Não sei. Não sei se o carinho por alguém se mede pelas embalagens de grife ou por uma “lembrancinha” mais modesta, a depender da conta bancária de cada um. Acho eu que o amor por alguém não é sentimento comercializável. Menos ainda em relação às mães. Aprendi que amor não se compra e não se vende, se conquista. E se conquista ao longo do tempo. Diferente do amor à primeira vista, tão exaltado na literatura romântica, mas que nada mais é que uma atração física repentina e, muitas vezes, efêmera.

É o amor, me parece, um sentimento similar à amizade. É tão semelhante que, às vezes, se confundem e imperceptivelmente um pode se transformar no outro. Acontece. É quando uma relação afetiva amigável toma um rumo inesperado e surpreende até mesmo aos que nela estão envolvidos. Acontece. É também quando o amor envelhece e a união se mantém por outras razões distintas daquela que a motivou. É quando, pelo hábito, um necessita do outro e os traços de união, percebe-se, são apenas os ritos da amizade, nada mais.

Assim, o sentimento que une mãe e filho pertence a uma categoria singular. É difícil de explicar. Há uma reciprocidade inata, latente, visceral. É uma extensão corpórea da mãe para o feto/filho e, no campo do afeto, única. Mas na vida tudo é mutante. Aquela ligação inconsútil, inicial, aos poucos se esgarça e mais à frente pouco a pouco se rompe. Sem, contudo, ser esquecida totalmente. Mas o filho, já distante, sente menos essa separação. O que é necessário e benéfico para que seu caminho seja vivido com plenitude. Para ela, porém, basta que, de vez em quando, seu rosto se volte para trás e com um sorriso lhe faça um aceno com carinho.

Talvez, por isso, o “Dia das Mães” tenha sido criado: para que todos nós possamos pelo menos por um pouco de tempo, como Orfeu em relação à Eurídice, olhar para trás, para aquilo que foi um dia o nosso maior objeto de amor, mesmo ciente de que logo após o perderemos, de novo, na rotina cruel do dia a dia de cada um.