Um país à deriva

Desde que o Juiz Sérgio Moro deu início à operação Lava Jato, as prisões têm sido contínuas no país. Todas as semanas, ou quase todos os dias, temos notícias de que algum figurão, político ou amigo de político, se envolveu em falcatruas e é preso pela Polícia Federal. É cena corriqueira já. Ninguém mais se surpreende, nem tampouco se penaliza diante dos algemados e das negativas que apresentam, pois, segundo eles, mesmo pegos com a boca na botija, são todos inocentes.

Mas todos nós sabemos que logo em seguida as provas dos crimes praticados vêm à tona e os valores surrupiados também: milhões, milhões e milhões. São cifras inimagináveis para a maioria dos brasileiros que ganha mal e vive pior ainda, mas tem de seu pobre salário descontado o imposto que deveria custear os serviços públicos como, pelo menos, a escola de qualidade para os filhos e a saúde garantida para toda a família. O que não mais é preocupação do governo atual. O dinheiro sai e não mais volta como deveria. Mas é esse mesmo dinheiro, somado ao das propinas, que propicia a vida de luxo e até de luxúria que muitos passaram a usufruir depois de ingressarem na gangue criminosa deste governo.

Falamos em crimes, mas pela cartilha de D. Dilma são apenas “malfeitos”. Quem não se lembra do início de sua gestão em que ela prometeu fazer a faxina nos Ministérios porque alguns de seus Ministros haviam cometido “malfeitos” (leia-se roubos). Pura falácia, pura enganação. E o povo acreditou, ou pelo menos alguns e, em especial, os petistas que juravam ainda que o Partido do Lula era mesmo um partido sério e iria moralizar o país. Mas quem conhecia o passado do sindicalista Lula que traía e delatava os amigos, na época da Ditadura, para receber as benesses do governo militar e aí começou o seu rico pé de meia, e que não mais pararia de evoluir, sabia bem que teríamos com ele e seus comparsas o pior período político da vida brasileira. E hoje todos nós temos a certeza disso e sofremos na pele as suas consequências Agora, só esperamos que além de Bumlai, o “Rei do gado”, o amigo do peito, Lula da Silva, o ”Rei da Rapina e da Avacalhação Política”, vá também com seus rebentos lhe fazer companhia na prisão.

Operação Lava Jato, Operação Zelotes, Operação Passe Livre, e outras mais que certamente virão, pouco a pouco irão limpar a área política e quem sabe depois desse apocalipse, dessa desinfecção imprescindível, teremos um recomeço, e da nova Arca de Noé sairão aqueles que com outra postura levarão avante o projeto de um país com o qual sempre sonhamos: um país com um futuro promissor e do qual possamos nos orgulhar.

E para que isso ocorra, é preciso que os deuses protejam com vida longa os nossos benfeitores: Joaquim Barbosa, o precursor; Sérgio Moro, o seguidor, e sua equipe; e a Polícia Federal com sua coragem e persistência.

A escola, a formação e as leituras

Em meio às imagens meio que nebulosas do passado, de repente, uma ou outra cena ocupa a telinha de minha mente como se a vivenciasse agora. Nítida, sem distorções. E nela vejo pessoas que comigo compartilharam momentos delicados, decisivos, e dos quais tenho saudade. De meus pais, por exemplo, de meus irmãos, da troca de afeto que era constante entre nós, do respeito com que recebíamos as orientações e os ensinamentos tanto em casa quanto na escola. Saudade também do olhar tão ingênuo com que víamos, meus irmãos e eu, o mundo externo a esses espaços, ou seja, o mundo além do lar e da escola. Tudo era tão tranquilo, tão mágico, tão maravilhoso no nosso exíguo reduto! E tão diferente dos dias de hoje!

E a escola? Ah! A escola! Era a continuação de nossa casa. Os professores, extensão de nossa família. Havia uma relação de afeto e de respeito. A ela íamos felizes e orgulhosos com o material nas bolsas. Bolsas, sim, não havia mochilas, como agora. E parecia que por elas transportávamos tesouros. Livros e cadernos encapados caprichosamente com papel de seda verde, a cor simbólica; lápis cuidadosamente apontados, pois a palavra lapiseira ainda não havia entrado em nosso vocabulário; estojos; borrachas, e tudo mais que os mestres de nós exigiam para as atividades em sala. E a aparência, e a vestimenta escolar? Por elas ficava demonstrado todo o empenho da família com os uniformes limpinhos, bem passados e os cabelos penteados com esmero. Mamãe me fazia cachinhos e eu ia toda feliz, toda vaidosa. Parecia até que íamos todos os dias a uma festa, tal era a preocupação com os detalhes. E na verdade, para meus pais, era uma festa que só agora consigo decodificar, uma festa em que se comemorava a aquisição diária do saber.

Na sala de aula, os professores muito bem preparados, passavam os ensinamentos num ambiente de tranquilidade, mas com o rigor necessário a um aprendizado eficiente, e de nós esperavam o melhor resultado, o que em geral acontecia. Havia provas escritas e orais e morreríamos de vergonha se não soubéssemos responder às questões propostas com o máximo de eficiência, cientes de que era isso que eles esperavam de nós. E não iríamos decepcioná-los. Por isso, o estudo diário, os exercícios repetidos e acompanhados pelos pais para que nenhum fracasso ocorresse nessa jornada. E eles não ocorriam. E as notas obtidas confirmavam essas pequenas grandes vitórias.

Por esses motivos, talvez, as imagens dessa fase continuam vívidas em minha mente e delas, ao revivê-las, sinto saudade. Uma saudade terna dos mestres, dos coleguinhas com quem dividíamos as brincadeiras no chamado “recreio”, do passeio que era ir de uniforme e a pé à escola tão pertinho de casa, mas segura pela mão de meus irmãos mais velhos, e do orgulho de ao final de cada mês entregar a meu pai o boletim cujas notas compensavam todo o esforço despendido por todos nós.

A escola se tornou, então, um marco em minha infância e também na adolescência, mas foi com o hábito de ler que os espaços em minha mente foram lentamente sendo preenchidos por personagens da literatura e deles nunca mais me separei. Personagens como Clarissa e também Olívia, de Érico Veríssimo; de Capitu e Bentinho, de Machado de Assis; de Macabéa e GH, de Clarice Lispector; de Faustine, de Adolfo Bioy Casares; de Emma Bovary, de Gustave Flaubert; de Riobaldo, de Guimarães Rosa; de Raskólnikov, de Dostoiévski; de Dorian Gray, de Oscar Wilde, e de tantos outros que é impossível enumerá-los, mas que transitam livremente pelos labirintos de meu cérebro e quando insistem em me contar de novo suas histórias, recorro às minhas estantes, abro a obra e retomo a leitura. E outra vez mergulho nos meandros dessas narrativas que de tão intrigantes e bem estruturadas pelo autor parecem me revelar novos fatos, novas sensações, que em leituras anteriores, eu posso até jurar, estavam em ausência nessas páginas já tão manuseadas por mim.