O homem obsceno

O homem público que mente é obsceno
O homem público que trai é obsceno
O homem público que rouba é obsceno
O homem público que rouba e esconde o ato
é mais obsceno
O homem público que rouba, esconde o ato e se diz inocente
é ainda mais obsceno
O homem público que rouba, esconde o ato e se diz inocente,
trai a confiança do outro,
revela-se um devasso,
um ultraobsceno
E deve ser retirado de cena

As mudanças de março

A mídia nos coloca a todo minuto a par do que ocorre em nosso entorno. Sejam notícias boas ou más, acontecimentos próximos ou distantes, de acentuada representatividade ou apenas fatos corriqueiros dos quais não mais nos lembraremos amanhã. Por isso a importância de uma mídia livre, em todo o mundo, para que as informações cheguem rapidamente a todos os destinos, sem censura e sem rodeios.
Tivemos em março acontecimentos de extrema importância na área religiosa, com a anterior renúncia do Papa Bento XVI e a eleição, agora, do Papa Francisco, argentino e jesuíta, contrariando todas as previsões dos especialistas em assuntos do clero, que apostavam, uns, em uma escolha recaindo sobre um cardeal italiano e, outros, em um cardeal brasileiro. As previsões falharam, mas embora eu nada entenda sobre as reais atividades espirituais e até políticas de um papa, parece-me que os critérios adotados pelos representantes da Igreja, que votaram e elegeram o ex-cardeal Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco, foram muito acertados.
E por quê? É simples. Porque representantes da igreja católica de várias partes do mundo vinham ocupando, de forma recorrente, os jornais com notícias sobre comportamentos inadequados e inaceitáveis para aqueles que optaram pelo caminho da fé e da religiosidade, em especial nos quesitos corrupção e pedofilia. Essas questões, sabemos, levaram Bento XVI à renúncia por não poder suportá-las. O perfil do novo papa, por ser jesuíta, o leva a ser mais rigoroso com atitudes perdulárias e morais e, assim, renovam-se as esperanças de que na igreja, pelo menos, teremos mudanças para melhor.
Na política externa da América Latina, tivemos a morte novelesca de Hugo Chávez. Novelesca porque cercada de mistérios e de mentiras. Foram tantas estas, para comover o povo e se eleger o sucessor de Chávez, que até o embalsamamento do ditador bolivariano teve problemas, até agora insolúveis, apesar de especialistas russos e alemães serem chamados à Venezuela para fazer o trabalho impossível. É que o tempo decorrido entre a morte verdadeira e o embalsamamento foi longo demais. Ou seja, Chávez não morreu na data comunicada por seu escolhido e futuro sucessor, que manipulava o povo com notícias inverídicas sobre a saúde do líder, mas muito antes, e a biologia não espera porque a anatomia se deteriora e, então, não mais é possível recompô-la.
E em nosso país? Aqui, os jornais trouxeram diariamente “boas” notícias vindas do Planalto. O PIB foi manipulado para apresentar dados menos trágicos à população; a inflação continua sua escalada em direção ao topo sem que o governo tome as providências adequadas para impedir esse assalto ao bolso do trabalhador, que ele finge tão bem proteger com bolsa-isto e bolsa-aquilo; a incoerência ganhou nova dimensão com a escolha de Marco Feliciano, pastor e deputado aliado de Dilma, para a presidência do Conselho de Direitos Humanos e Minorias, já que ele é declaradamente contra gays e outros e outros. Pergunta-se, então, que direitos ele defenderá? E que minorias? Só Deus, que dizem ser brasileiro, e o PT podem saber.
Não sendo estas notícias suficientes para nos tirar o sono, ainda temos as últimas: as incompreensíveis Bolsas para estudantes brasileiros realizar cursos no exterior sem saber a língua local, e a nota máxima no ENEM para quem escreveu, por exemplo “rasoável” (com S), “enchergar” (com CH) e “trousse” (com dois SS) na prova e ainda ganhou, por “mérito” (!!!), Bolsa do governo para cursar uma universidade pública.
Vamos, agora, pensar um pouco sobre estas atitudes governamentais. Ou seja, alunos brasileiros vão, por exemplo, estudar na Alemanha sem conhecer a lingua alemã, o que até o ano passado era impensável, por questões óbvias. E aprenderão o quê, nesses cursos? Farão turismo, certamente, e com o nosso dinheiro, porque o governo só distribui essas “bondades” com o dinheiro que pagamos em impostos absurdos.
Quanto a dar nota máxima e oferecer Bolsas por mérito a quem comete erros como esses, entre outros, o que revela pouco conhecimento da própria língua, sinaliza que o objetivo do governo atual não é a premiação dos melhores, não é a melhoria do ensino em nosso país, mas fazer um afago nos jovens que logo, logo, poderão votar e, assim, com a maior ingenuidade do mundo, nas urnas, estes irão agradecer àqueles que lhe abriram as portas para um ensino que cada vez menos prepara o aluno para a vida, seja profissional, seja existencial.
É, as notícias como as águas de março, veiculadas pela mídia, estão deixando muita lama atrás de si. É preciso, por isso, olhar com cuidado o terreno em que se pisa.

Olhar o vento

Olhar o vento,
Ver seu silêncio sem fim:
Privilégio de poucos.
E muito de leve
Nele colo sua imagem
Para não arranhar
A saudade
Do que se foi com a brisa
Naquela prateada manhã.